26 de out. de 2011

UMA FOTO É O MEU MAPA

NINO BELLIENY

Só usamos mapas para ir a lugares aonde nunca estivemos e mesmo assim as surpresas não estão previstas nele. Olho nos olhos bem abertos da foto. O dia parece que vai começar e eu ainda não dormi. A chuva na vidraça vai desenhando trilhas que não se repetem, peixes no aquário namoram seus próprios reflexos e os olhos da foto me dizem tanto.

Eu quero estar dentro da imagem e passar as pontas dos meus dedos cansados no rosto que brilha. Escrever entre as sobrancelhas, escorregar pelo nariz e mergulhar aonde nasce o sorriso mais ensolarado que eu jamais vi. Qual será a cor do perfume dela? Qual será o perfume da sua cor? A pele é macia e firme, isso nem preciso imaginar. O veludo dos lábios envenenam os meus e se eu morrer, não será em vão. 

O que me suspende em fios tão finos quase invisíveis é o olhar manso e selvagem em extremos iguais e simultâneos. Ele me leva sem fim ao fim sem começo. A mulher da fotografia é uma mágica acontecendo diante da saudade e magia não se explica.

Sou a imaginação abraçando o corpo na fotografia enquanto tento adivinhar cheiro de xampu, tecitura de cabelo, suavidade de mãos e pressão de coxas contra coxas. De novo e para sempre o imã da pele não permite afastamentos. Pretendo muitos poemas com a minha língua em suas pétalas e tenho receio de imitar um beija-flor descontrolado e depois voar sem rumo. 

Medo é coisa pra se sentir na hora e nunca antecipado. O que sinto agora é o coração disputando uma partida de futebol contra si mesmo faltando apenas um minuto para o jogo terminar. Os olhos da fotografia, no entanto me acalmam, conversando a canção do silêncio que me fala tudo o que necessito:“ Não tenha pressa, o tempo de nós dois é como uma nuvem que não avisa... mas, vem.”

Nenhum comentário: