22 de out. de 2011

SIMPLICIDADE

NINO BELLIENY



Conheço gente de todo o tipo. Gente que pretende passar uma imagem diferente do que é, e além de gastar dinheiro, desperdiça energia mental para manter uma atitude, um estilo de vida e toda uma ilusão, onde a principal vítima é ela mesma. 

A sabedoria oriental chama a isso de Kundaline, uma poderosa armadilha mental, capaz de envolver completamente a quem nela acredita, não se apercebendo de que está sendo sugado no que tem de mais precioso: o tempo presente, o aqui e agora. 

Mantidos por uma ilusão, viajam em demasia por universos paralelos em fuga constante e eterna insatisfação pelo que estão fazendo. Não é proibido sonhar, evidentemente. Há momentos memoráveis em nossas vidas, só possíveis porque o sonho veio antes. 

Ousou-se imaginar o impossível para que pudesse acontecer. Porém, sonhos sem comando, usados apenas como rota de escape, abrem a mente para inimigos como a preguiça e a esperança, esta, uma controvertida palavra que mal interpretada pode aniquilar aquele que apenas senta-se em um confortável sofá e espera as coisas caírem do céu.

Prefiro perseverança. O dom de acreditar fazendo por onde, buscar indo ao encontro e não esperando chegar ao alcance das mãos. Me recordo de um amigo de infância, sempre me pedindo para lhe indicar uma chance de trabalho. 

Esta surgiu em forma de representação comercial de uma distribuidora de bebidas. Ele teria que estar na segunda-feira seguinte, às 7horas da manhã para começar o treinamento e posterior contratação. 

Pensei que o mesmo ficaria feliz, afinal a chance tão procurada estava em suas mãos: salgado engano... era uma sexta, véspera de uma festa tradicional na pequena cidade onde morávamos e só terminaria na madrugada de terça. 

Até lá, shows, bailes, bebida e diversão, tornando-se difícil para ele, sair cedo de casa, pegar o ônibus, se apresentar e começar o emprego que tanto precisava. Mas não queria. 

“Segunda-feira? Mas... e a festa? Não tem outro dia?” Está até hoje esperando este outro dia. Sei de quem, para chegar aonde chegou, engraxou sapatos desde os 6 anos, varreu e lavou escritórios, foi mensageiro, pegou no pesado, trabalhou na roça, assumiu tarefas consideradas humilhantes, mas não fugiu da responsabilidade, estudando, acreditando, economizando e finalmente encontrando o próprio caminho. 

Sonhar sim, mas sempre tendo o sonho como alto edifício, onde cada degrau tem o seu valor para se chegar ao topo e de lá partir para outro e outro. Enquanto houver horizonte.

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