31 de ago. de 2012


ANTICOBRANÇAS S.A.

Nino Bellieny

Nunca cobrar:
atenção
afeto
amizade
amor.
O que não tem preço não se cobra.

CANÇÃO REPETIDA

Nino Bellieny

Naquela cidade nem grande nem pequena, onde todos pensavam se conhecer, mas, nem a si mesmo conheciam-se direito, tudo era baseado em aparências e sentimentos.
Antipatias, simpatias, afinidades e contrariedades. Viviam juntos, mas, não conviviam.
Respiravam o mesmo ar e não compartilhavam ideias. Era preciso lutar pela própria vida e da família. Esta luta,que podia se
r mais digna e menos oportunista, significava trocar de ideais e projetos ao sabor do momento.

No período de eleições, por exemplo, as velhas antipatias e raivas contidas durante quatro anos eclodiam. Irmãos estranhando irmãos, filhos renegando pais e amigos, bem amigos... cada um querendo o seu pedaço maior de pão. No prato em que este mesmo pão fora comido por muitos, a saliva era jogada como detergente. Esqueciam-se os favores e as antigas mamadeiras fartas. Indignados clamavam em praça pública virtual ou real, as mazelas e desfeitos daquele, agora no Poder, mas, que não os beneficiava. Esqueciam que seus pais, irmãos, avós e tios e principalmente eles mesmos, já tinham sido parte de rodízios, que para serem bons, só se fossem eternamente com eles.

Bocas alimentadas por anos por vínculos municipais da mãe ou do pai, agora babavam o veneno da ingratidão. Pregavam a anarquia ou alguém que ao tomar as rédeas, lembrasse-se deles, para que, por mais quatro anos, sugassem tetas cansadas e ainda assim, com mais um pouco de leite. Criticar, condenar, blasfemar, inventar detalhes escabrosos sobre a vida de todos, coisa comum sempre, nesta época eletiva, tornava-se realmente o Grande Esporte. 

Não importava as conquistas, os bons feitos, o que significou de crescimento. Dentre estes, os que amavam verdadeiramente a cidade,.tentavam seguir o caminho correto e sofriam com a descrença e a ira dos considerados “espertos”, que, se não fosse para encherem o próprio bolso, jamais permaneciam satisfeitos. Mesmo que do Céu visse alguém e tomasse conta dos destinos daquele tão bonito lugar. Ainda assim seria enxovalhado. E de novo crucificado.

28 de ago. de 2012


Projeto
Objeto
Dejeto.
Eis o nosso trajeto.
Nino Bellieny

CÓDIGO BELLIENY DESTRÂNSITO 2


Tenho fascinação pelo óbvio. Tão desprezado pela maioria, tem valor imperceptível. Quando precisam dele, já foi-já era-já passou.
Nino Bellieny

HISTORINHA DE UMA MANHÃ DE SÁBADO

Nino Bellieny
Belíssima, cheirosa do melhor aroma europeu na pele brasileira, usou a voz macia do convencimento: "Preciso de você...". Ele arregalou os olhos e outros órgãos, se achando e respondendo: "Eu sempre quis ouvir isso da tua boca...". E ela sem dó: " Troca o pneu pra mim?"

CÓDIGO BELLIENY DESTRÂNSITO 1


AR QUIETANDO

Nino bellieny
As sobrancelhas são as telhas das janelas dos olhos e o nariz a marquise da porta da boca. A língua é o tapete e as orelhas são as varandas . Fique à vontade. A casa é sua.
Mulher linda não é raridade. Porém, tendo a inteligência como o melhor vestido e o caráter como o melhor batom, é feito um diamante encontrado dentro de um hamburger na mais improvável lanchonete.
Nino Bellieny
A tarde vem na rede com os peixes. A noite fica na praia puxando. Enrolado na areia o dia dorme esperando a vez.
Nino Bellieny

10 CARTAS

Nino Bellieny
Aonde irão parar as coisas escritas com carinho para quem amamos? Digitais que se perdem em arquivos deletáveis. Ainda te escrevo uma carta como as das antigas. Para que guardes em tua caixa mágica e possas tocar com os dedos o amor que dentro dela estará para sempre.

És po
ema
E ao
po
ema
retornarás.
Nino Bellieny

METAL LEVE

Nino bellieny
Com o Tempo, a gente começa a colecionar pessoas queridas mortas. Passa a viver em outros mundos. Um, o da memória, de quando elas estavam perto e outro, este terreno indefinido, chamado Agora, alimentado pela Saudade. Pois, caros e caras, Saudade e Memória até se parecem, só não são a mesma coisa. Conversamos com nossos mortos, temos suas silenciosas companhias e não são fantasmas. Somos nós em nossos mistérios tão densos e tão claros. O que nos deixa nem meio-vivos nem meio-mortos. Deixa-nos simplesmente.

19 de ago. de 2012


PACOTES

Nino Bellieny 

Elegância sem estilo próprio. Inteligência sem espiritualidade. Beleza sem alma. Foram muitas. Num tempo em que eu me contentava com a embalagem. Até aprender a desembrulhar.
Quando a moça de Moçambique chegou ao alambique o coração deu um pique, a mente um clique, nem precisou mais de cachaça.
Nino Bellieny

ESTÁGIOS PÓS-TÉRMINO DE RELAÇÃO

Nino Bellieny

1- Ligar repetidas-inúmeras vezes. Centenas de vezes.
2- Ir da ternura à estupidez, do carinho à fúria em poucas palavras
3- Dizer que não vai mais ligar e 12 segundos depois, esquecer a promessa.
4- Ofender de todas as formas
5- Amar de todas as formas
6- Prometer que vai mudar-transformar-ser-outra-pessoa, fazer todo o não feito antes.
7- Não notar o ridículo da insistência e o enjoo progressivo causado.
8- Caso consiga reatar o romance, por pena, fraqueza do outro ou mesmo amor, voltar em poucos dias a ser a mesma figura capaz de novos transtornos e absurdos.

CLARA

Nino Bellieny

Nem fala
Deixa o silêncio pela sala
O cheiro do passado já exala
O que fomos nós corre na vala.
Nem à bala
traria de volta a fala
A mágoa que se instala
A tristeza que estala
E o peso morto da mala
Cheia do que em nós se cala.


                                           
                                             Atravesse o vidro. 

                                                            Atrevido seja. 
                                                                       E sem cortar-se.
                                                                                       Nino Bellieny

PESADELO

Nino Bellieny
Sonhou que vivia em um país onde ser escritor era crime. Foi preso em uma cela sem caneta e papel. Para não enlouquecer escrevia na parede com o sangue que os pernilongos deixavam de resto em sua pele. Como castigo lhe deram o meio do pátio. Usou os pés pra escrever poesias. E porque era bonito morrer por uma causa assim, ficou triste quando acordou e viu que era só um sonho.

A dor do outro bate em mim. A lágrima estranha não me é.
Todos os sentimentos se misturam na betoneira. Concreto se arma e a casa se ergue na divina agonia dos humanos que são humanos demais. E só estes, verdadeiramente, são felizes. A indiferença, fingida ou real, são brasas de infernos particulares. Nestes eu não me queimo.
Nino Bellieny

10 de ago. de 2012

MOEDAS ANTIGAS

NinoBellieny
Felicidade não tem medida. Não é propriedade a ser acumulada. Isto gera ansiedade e insegurança, alguns dos inimigos de quem se faz feliz. Ela está presente no não-pensamento, na ausência da dor, neste momento tranquilo a rodear. Daqui a pouco se afasta, some, porém volta. Basta não forçar, ela volta, se aninha, se alimenta, mata a sede e assim, outras vezes irá passear, como um livre gato doméstico. Prender o fugaz é prender a atenção e este esforço de retenção, produz o contrário do que é ser/estar feliz.
Permita-se.
Vazio: invisível-intocável-inaudível-inodoro-insípido. Mesmo assim, como pesa!
Nino Bellieny
Conheço muitos que não fumam, não bebem cachaça, não jogam sinuca, detestam futebol. E sabem ser péssimos.
Nino Bellieny

O mergulho do Guerreiro

Nino Bellieny

PERAMBULA

Nino Bellieny
Para quem ama
O tempo é chama
Que queima sem doer
Doendo sem querer
Vivendo de morrer.

PRO SINAPSE

Nino Bellieny
Ficam esperando "o grande amor". Fossem buscar, em qualquer lugar, seria melhor, mais autoral . Não é feito remédio na hora certa. Ou ônibus atrasado. É procurar atentamente e encontrando, ter a paciência da transformação. Um grande amor não nasce grande. Torna-se.
Google
Enquanto houver a necessidade do outro e a consequente dependência deste para ser feliz, não será.
NIno Bellieny