27 de set. de 2011

HISTORINHAS DE AMOR I

NINO BELLIENY
Pelo que tenho visto, todos são muito bonzinhos e conseqüentemente vítimas. Todos acreditaram, se doaram por completo e foram decepcionados. Mas, como? Se todos são tão especiais onde estão os algozes? Algo está desproporcional na relação coitados versus carrascos. Acho mesmo que é memória seletiva. Só lembrar-se das dores sentidas.

26 de set. de 2011

TONTERIA

TIME IS FREE

Minha cabeça voa no tempo faz como bem quer a minha cara e todo o corpo são papéis onde os dias e as noites escrevem sempre uma velha linha nova mas a minha cabeça, ah a minha cabeça, faz do tempo o que bem quer.
 NINO BELLIENY

LA CARTE

NINO BELLIENY

Mesa de restaurante. Ao lado um sujeito nervoso, com cara de pretérito, fala com uma linda mulher, cujo perfume dança no ar e os olhos não param. 
A voz de ambos pode ser escutada: " Eu te avisei! O Rogério só quer te comer! Ele é um mau caráter!".
E ela, tranqüila responde: " É tudo o que eu quero. Nada mais..."

CONGRATULAÇÕES

NINO BELLIENY

Para você que nas mesas dos bares e das festas, sempre rodeado pelas mesmas cabeças vazias e muitas garrafas idem, passa o tempo criticando os presentes e os ausentes.

Parabéns para você, dono de uma vida sem graça e fútil , tentando preencher as lacunas ao rir da roupa de uma amiga, da gordura de outra, da cafonice de não sei mais quem. Nota dez para o seu comportamento melhor do que o do resto do planeta, que sabe da vida de todos, espalhando fofocas de forma veloz e mortífera.

Você que tem ideias maravilhosas, projetos sensacionais, todos com meia-hora de duração,o mesmo tempo do efeito ilusório do álcool ou de outra droga predileta, ou simplesmente por pura frustração.

Grande pessoa é você, capaz de enxergar os mínimos defeitos alheios e fingir que dentro da própria casa vai tudo bem, enquanto a vizinhança, os colegas de trabalho e os amigos sabem como está tudo muito mal. Belo espécime da humanidade é você. 

O único ou a única que não comete nenhum tipo de pecado... nunca sentiu o desejo da vingança, não levantou falso testemunho, não desejou o mal, não cobiçou, não levou à frente boatos só por ter ouvido falar. 

Ótima pessoa é você que comunga e sai da missa de alma lavada e na primeira esquina trata de sujar, só um pouquinho, assim, tem motivo para retornar e limpar de novo na próxima. Você que se ajoelha no culto evangélico e ora em lágrimas pedindo perdão, porém não consegue se conter quando discute com alguém e exagera em ofensas.

Você que trai só para se distrair, corrompe-se só porque todos se corrompem e só fala mal dos outros, pelo fato dos outros também falarem de você. Parabéns por exercer a arte da hipocrisia, por viver de aparências, por ser falso com os amigos e não honrar a palavra.

Parabéns, afinal, artistas como você, que pensam enganar a todos , mas , na verdade enganam a si mesmos, merecem o nosso reconhecimento por serem tão canastrões.
Vai tentando, um dia, quem sabe, você ainda ganha um prêmio por tanto fingimento. E parabéns para o seu espelho. 

Saber tanto sobre você e não ter estilhaçado, significa que, ainda há algo de bom em sua vida. Nem que seja só ele, o espelho.

PESADELO- I

NINO BELLIENY

Sonhou que vivia em um país onde ser escritor era crime. Foi preso em uma cela sem caneta e papel. Para não enlouquecer escrevia na parede com o sangue que os pernilongos deixavam de resto em sua pele. Como castigo lhe deram o meio do pátio. Usou os pés pra escrever poesias. E porque era bonito morrer por uma causa assim, ficou triste quando acordou e viu que era só um sonho.

THE LAST TREE

NINO BELLIENY

GUARDA-TE DA PRÓPRIA MALDADE

Conflitos existem em qualquer estágio da vida. A diferença está na capacidade e velocidade de reação diante do tipo de sentimento atacando a serenidade. É uma súbita informação da morte de alguém querido, é a falta de um objeto importante, uma fofoca, um prejuízo financeiro, um –não-se-sabe-bem-o-quê –incomodando- tanto e uma vontade de ficar invisível. 

São dias de angústia previsível e constatação de que o mundo não é feito exclusivamente, aumentando a sensação de abandono e a autopiedade. É nesse instante que a reação se faz necessária. 

Não aquela agressiva contra todos e principalmente contra si mesmo, mas, a que permite compreender o que se passa e rapidamente isolar a nociva sensação de raiva, desejo de vingança, impotência por não conseguir, repetição das imagens mentais do ocorrido como um filme sem fim, ilusões desfeitas e humilhação cavalar. 

Acontece quando há discussão entre amigos, chefe e subordinado, marido e mulher, duas pessoas estranhas, enfim, onde houver uma relação ou confronto em que um assume o papel de dominador e o outro de dominado ainda que inconscientemente. 

Aprender na velocidade ideal a reconhecer que tipo de texto surge nos palcos da vida dá a condição de aceitar ou não qual personagem será predominante. De preferência equilibrado e consciente da imensa fragilidade de tudo o que há em volta. 
E mansamente fluir na direção do infinito.

TODA VEZ QUE CHOVE

NINO BELLIENY

E os pingos teclam nos telhados, quero descansar lembrando a infância boa que tive, mas o pensamento se desvia nas prováveis manchetes resultantes do excesso de água, enfeitando os jornais de amanhã.

Enquanto chove, quero ler um livro bom e esquecer de campanhas políticas, trabalhos escolares, frases a serem boladas e até da namorada que desistiu de enfrentar um sonho. Mas o que vaza do rio para as ruas, os esgotos entupidos e a luz que ameaça faltar, me surgem diante da janela da sala.

A cidade onde moro é como outras milhares de cidades do meu país onde casas de luxos e apartamentos sofisticados se misturam de repente com barracos e casinhas de telhados de amianto e as pessoas parecem conviver democraticamente.

Parecem... se cumprimentam nas ruas, cruzam-se nas avenidas e nos mercados, andam de baixo do mesmo sol e da mesma chuva...exceto pelas armaduras que as protegem, pelas carruagens modernas com ar-condicionado e duzentos cavalos bebedores de gasolina puxando.

Enquanto chove, tento viajar nos barquinhos de papel que a minha mãe fazia e eu soltava nas enxurradas em frente ao cartório onde ela trabalhava em Morro do Coco. Eles desciam pelas sarjetas, iam para os valões, cruzavam os pastos e sumiam no horizonte eterno da minha criancice.

Nas páginas do livro que agora tento ler, é o belo rosto da minha mãe e o do meu pai, separados pelo destino, (e uma mulher morena–clara mais jovem), a surgirem do fundo do tempo.

Foi com eles o aprender a amar as letras e as palavras, a música e os livros. Agora na chuva embaçando a vidraça redesenho tudo o que deles ouvia e a noite avança molhada.
Meu egoísmo reclama por uma boa cama. Não quer saber das goteiras nas casas antigas, nas moradas tristonhas onde o vento entra por todos os lados e a água pode levar tudo, exatamente tudo o que eles não tem.

Minha falsa segurança depositada em blocos de concreto não quer enxergar o meu verdadeiro país e a minha cidade real.

Enquanto chove, como numa velha canção tocada sempre na Igreja de N.S. da Penha no alto do morro, para mim e outros, ”o vento que assovia é cantiga de ninar”... mas para muitos, muitos mais, é só um lamento dentro da noite.

RONDA DO MARINHEIRO DASSAULT NA ILHA DE PÁSCOA

NINO BELLIENY

ATAFÔNICAS
Sinto você partindo de mim como os barcos de pesca
 na madrugada seguem para o alto mar.

NADA

NINO BELLIENY
Meus problemas não me entristecem. São ínfimos diante do casal dormindo sobre papel na calçada da Catedral ao meio-dia onde cds piratas de música sacra são vendidos. 
Pessoas invisíveis entram, rezam e saem.
Ao redor a fome, mesmo com tanta propaganda oficial querendo me convencer do contrário. Dentro, a sensação de nada em mim, operário da palavra, consciente cidadão sem ser. Isso sim, me entristece.
Enquanto você se preserva, eu me hiperexponho. 
Descrevo na cara todos os meus pesadelos e sonhos.
NINO BELLIENY

CRENDICE ANTIGA

NINO BELLIENY 
 Dizer que penso em você 24 horas por dia é mentira. Afinal, como, bebo, escovo, banho, durmo, acordo, treino, luto, corro, escrevo, desenho, fotografo, falo, canto, calo, respiro, ouço, viajo, leio, ligo, desligo, teclo, estudo, sonho, trabalho, imagino, lembro, esqueço e lembro de novo. Ou seja, isto me consome algum tempo. As 23 horas que me restam, aí sim, penso em você.

25 de set. de 2011

ATESTADO DE INCAPACIDADE

NINO BELLIENY

Ela está na estrada e nela estou pensando, pensando nela, não na estrada, que também é perigosa. Fico preocupado com alguém que nem se toca. Toca pra frente que a estrada é o futuro . 

Quero avisá-la dos contratempos, lembrar das curvas que conhece bem, do imprevisto na ponte, das retenções logo adiante. Ouço vozes que me dizem “não se antecipe, hoje vai dar tudo certo ela tem um anjo por perto”. Devo confiar no além só meus olhos não fecham no aqui. 

Desejo saber como ela está e evito conexões, não é pelo preço da ligação é só não ser mais um monitorando- ser mais um eu não pretendo. E sou eu sei. Evito ciúmes ou pensamentos direcionados tenho sucesso na empreitada quando durmo pelo menos, mas, como tenho dormido pouco! 

Quero protegê-la carregar em meu colo dizer do amor vulcânico em meu corpo todo, tolo o meu corpo como não ser tempestade diante da mulher ventania? Ela me parece tão segura diria se não soubesse da máscara sagrada sobre emoções inquietas. 

É tão distante e perto de mim fica quando menos espero quando espero não há garantias nunca me chama, insinua-se, aceita, negaceia, concorda, foge, dispara, aperta o gatilho e dispara outra vez. De que valem as minhas preocupações, meus cuidados paternais, meu abraço cheio de segundas, terceiras e todas as boas e más intenções? 

Ela continuará a viver sem a minha fala, sem o meu olhar, sem a minha respiração na nuca. Não faço falta e a que ela me faz eu aprendi a refazer. Sou necessário como um bem supérfluo e indispensável como chuva em um dia de praia. Vou dizer o quanto gosto dela, do que ela faz, comentar o que ela é, pensar que sei tudo sobre. 

Ao tropeçar da noite mudarei de ideia. Não fará diferença. E isto já não me apavora mais. Quando o dia levantar-se tudo começará outra vez.
A gente tenta. Inventa que é feliz. Inventa muito e acredita tanto no invento que nem percebe como se desmancha fácil ao vento o que o tempo desinventou. 
NINO BELLIENY 

23 de set. de 2011

DÉTOURNER

NINO BELLIENY
No dia do desencontro nada acontece, tudo desacontece
A vida se separa em pedacinhos sem cor
No dia do desencontro ganha um ponto quem tem que compreender tudo
Sendo proprietário da melhor imaginação que não se vende nem se compra
E com ela escrever um conto sem fim.
Será longa a tarde do dia do desencontro
Um mergulho no espelho das contradições
Sentir-se tolo
Sentir-se vago
No menos, a noite do dia desencontrado será pior
Não ouvir a própria voz, não dançar a música amada ,
Não beber vinho, dele tendo apenas o branco onde as palavras não surgem
Na noite do desencontro ser poeta ou coisa desaparecida é ter cansaço
De tudo, de todos, de si.
Só a primeira flor traduzindo a primavera
Pode derrotar o dia do desencontro
Pelo menos por alguns dias a vida voltará a ser jardim.
Uma septoplastia vai me afastar de vocês, caros amigos caros, durante alguns dias. 
Conto com a fé e força de cada um-uma. Em Itaperuna-RJ, no HSJA. 

Mas postagens programadas continuarão a alimentar nosso Blog. 
Até breve.

NinoBellieny

22 de set. de 2011

DÉ DINHO

O MINISTÉRIO DA SAÚDE AVISA

NINGUÉM ME AMOU + DO QUE FLÁVIA



MASTIM

NINO BELLIENY
Por mastigar nuvens
estou com a barriga vazia
por querer preencher
estou sem nada
Então, vou buscar novos egoísmos
para alimentar-me.
Ou sentar à sombra
dos fios telefônicos
onde ouvirei conversas
imaginarei respostas
e terei um novo mundo
porém, já tenho uma autoavaliação:
acabo de escrever um poeminha vagabundo.

(Poema participante da Mostra Visual de Poesia Brasileira-1982)

VACILOU... VAZOU

NINO BELLIENY
Vacilou, vazou, sai daqui e leva as tuas tralhas
não sou Irmão Metralha
pra ter que te aturar
a vida já é dura
com vacilões vira fritura
eu quero é melhorar. 
Vacilou, ,vazou, meu motor quer gasolina pura
chega de mistura
se você não se segura
não vou eu me segurar. 
Vacilou, vazou, água benta não te cura
molha esta secura
vou chamar a viatura pra poder te carregar...vacilou? Vazou!

21 de set. de 2011

OLHO DE CROCODILO


NINO BELLIENY

MEUS AMIGOS DO ORKUT E DO FACEBOOK

NINO BELLIENY
Tão belos e ricos
Tão felizes que fico
Também feliz com a cara sorridente de cada um

Não há problemas
Nem dores de dente
Não há cocôs de cachorros para jogar no lixo
Nem dívidas
Nem fome
Só festas
E taças de bebidas coloridas em tantas mãos
Não padecem de amores
São todos bem resolvidos
Transparentes como vidros
Meus amigos e minhas amigas virtuais

Aqui o sol jamais se põe
Uma vez ou outra algum luto
Logo passageiro
Pois neste universo não há espaço para lágrimas
Estão na Ilha de Caras e bocas
Cheios de poses e closes.
Solidão é autoconfiança no dicionário do Face e do Orkut
Um yogurte feito só com beleza e charme
Planejado com requinte

Todos são sinceros e inteligentes
Falam inglês, francês , todas as línguas do Google Translator
Viajam para lugares maravilhosos
Só conhecem pessoas interessantes
E são cheios de atitude
Vão aos melhores clubes e boates
Usam as grandes grifes
E não cometem gafes
Cometem elegância

Não há foto feia
Não há sorriso careado
Mau hálito e maus hábitos ninguém tem
Editam os melhores momentos
A vida deles é feita só de melhores momentos

Meus amigos do Orkut e do Face
São tão perfeitos que nem sei se realmente existem
Não vou achá-los na esquina
Não vou encontrá-los no bar
Cadê aquela menina?
Não, não é ela...
Ela é linda no perfil
Ao vivo é outra
É tão gente
Que deve ser cópia desbotada

No Orkut e no Face
Todos brilham/ reluzem /acontecem
Inclusive eu...

A MULHER GOSTOSA

NINO BELLIENY


PLEASURE & DANGER

Chamar uma mulher de gostosa é uma arte, caso ela mereça. Sem ser explícito ou invasivo, exceto haja a proteção de um tapume, bem do alto com direito a cheiro de cimento e ruido de betoneira. Não será aos gritos públicos. Não exige o uso do adjetivo. Pode ser sussurrado pelos olhos. Sem agressividade. Firmeza gentil, gentileza firme. Nada de constrangimentos. Não é uma reprodutora equina em leilão.

Também não é um objeto para ser apenas usado. Uma mulher assim sabe o quanto atrai o pensamento de um homem e as palavras são meras abotoaduras, desnecessárias quase sempre. 

Esperar que ela note antes de ser notada, é complicado, porém, possível. Abraçá-la com o calor de uma frase displicente e cantar a canção da vida despertando diante de uma excepcional beleza não só física como intelectual. 

A mulher gostosa dispensa rebuscamentos, sabe o valor da simplicidade, da pressão adequada e constante. Obrigatório ter classe. A mulher gostosa sem classe é só gostosa, efêmera passagem, prazer vulgar.

Estátuas foram feitas para as melhores, guerras se travaram. No entanto, ela quer só amor e algumas outras coisas, nem todas compradas. É preciso elogiar sem ofender. Atrever-se sem atravessar o ritmo. Amar cada movimento produzido pelas ondas da mulher, oceano naquele eterno instante ao ser olhada e fotografada por retinas experientes. 

A mulher gostosa tem tudo além de um corpo perfeito e rosto simétrico. Nem sempre é unanimidade. Terá defeitos , difamações, causará rebuliços e ataques da concorrência. Nada disso abala a mulher gostosa.

Capa bem feita de um livro escrito por mãos talentosas, é uma literatura definitiva a mulher gostosa. E lê-la requer tempo e calma. Descansam nossos olhos toda mulher sabedora disto. O mundo seria apenas uma bola perdida no espaço sem elas. São elas o mundo.

COMO RECONHECER UM FACENÓICO

NINO BELLIENY
No começo, são solícitos e bonzinhos. Durante, chatos. Sugam a paciência e a Luz. Ao final, acham que toda postagem é para eles, sentem-se perseguidos, enxergam coisas. Ameaçam, vociferam, se revelam. E o virtual torna-se perigosamente real.

PAIXÃO E MORTE DE NÓS MESMOS

NINO BELLIENY

Morremos um pouco à cada frase mal pronunciada ou mal interpretada. Morremos quando uma pessoa querida escolhe um outro lado das coisas onde não quer ser vista nem ouvida.

Há morte quando,até podemos ver e ouvir,mas, não somos nós os percebidos, jogados no limbo de nossas incoerências e da voraz sede de reconhecimento a qualquer preço. Vamos morrendo por indiferença e por excesso,como planta esquecida ou aguada demais. Já estamos quase mortos ao cerrarmos os portões por dentro, escondendo a chave e não deixando entrar o acaso.

Estamos morrendo ao matar o sonho do outro e o nosso, ao mergulhar no lento suicídio da falta de esperança, do excesso de mesmice em copos de desespero. De assassinatos verbais estamos cheios. De julgamentos sumários réus somos. Esclarecidas vítimas, educados carrascos, matadores de aluguel e alvos permanentes. Morremos avacalhando nossas vidas em conversas sem conteúdo, em ataques de inveja e perfídia.

Um veneno nada doce escorrendo do canto de bocas desenhadas em charmosos sorrisos. Frases mortais disparadas pelas costas, solenes projéteis disfarçados em pensamentos altruístas e elegantes. 

Matamos e morremos, ocultamos corpos, escondemos provas e só às vezes, pouquissimas vezes, nos lembramos,fazendo questão de não acreditar, que, acima de nossas pálidas cabeças, um Supremo Juiz a tudo assiste.

PENÚLTIMO ANDAR

NINO BELLIENY
Mulher sem final, só começos. Dela, tem o sabor e a consistência grudados no céu-da-boca. Conhece, graças a isso, o significado do inesquecível. Viveu o inesquecível. E não sabe mais outra coisa tão bem.

PERQUANT


NINO BELLIENY

NINO BELLIENY
"Tive namoradas obesas, magérrimas, feias, lindas. Lindas de cara, corpo e alma, outras só das 2 coisas primeiras. E no sentido físico, na cama, no escuro ou na penumbra, o conteúdo valerá sempre mais do que a capa. Como em muitos livros..."

O MEDO DO QUE PODE DAR CERTO

NINO BELLIENY
Um tipo de medo parece se alastrar contaminando quase todo o tipo de gente deixando de fora só os muito seguros de si. Mas, até mesmo estes podem cair de vez em quando nesta armadilha bem tramada pelo egoísmo entre outros sentimentos menos nobres.

É o medo do que pode dar certo... ele atinge o alvo de várias formas, mas, é principalmente no relacionamento amoroso onde causa maiores estragos. Há quem deseje mudar de vida e não tem coragem de abandonar a velha casca confortável... quem queira sair de casa dos pais e tema o desconhecido. Quem pense em mudar de emprego, de cidade e até de país, mas, receia a única coisa exata na vida: a mudança.

Quanto ao amor, este sim, muitos são os que lhe desejam ardentemente e quando encontram, ainda que de vislumbre, tremem diante do que procuraram por toda uma vida.

Sentem o absurdo medo do que tanto querem e finalmente foi encontrado. Porque com ele, virá a grande transformação. Com o sonhado amor, chegarão os dias de sol, mas, também os de tempestade e a tranquila casa da solidão conhecerá novos moradores. 

Sonhar com o amor não traz responsabilidade. Já cultivá-lo, requer trato e paciência. Compromisso.
Medo. De ter e depois perder. De ser finalmente compreendido e respeitado por uma única pessoa que ira até o fim do Universo para conseguir aquilo que pode significar felicidade.

Medo de perder a liberdade, de amar demais e se descobrir não tanto amado. De sair da rotina e ter de trocar o previsível pelo imponderável.
Medo. De não poder mais experimentar outras sensações e emoções com novidades; de não flertar com prováveis conquistas; afinal, é mais fácil largar e pegar, pegar e largar o novo, antes que haja o conhecimento mútuo que alimenta o amor e os ”problemas “ que são dados como brinde.
Prefere-se a excitação do desconhecido ao aconchego do estável. 

Negociando-se seres humanos no mercado livre da carne e seus prazeres voláteis.
Sendo mais fácil desculpar-se do que não deu certo, afinal, tinha mesmo tudo para dar errado, valendo, então, pela aventura...
Medo. De dizer que ama, de exaltar as qualidades da pessoa amada e ela, entediada e segura, não dar a mínima atenção preferindo a sedução de quem se vende mais caro e se revela tão barato e vulgar depois.

Medo. De amar exclusivamente à uma única e tecer o destino com o dela numa rede sem fim jogada sobre o mar da vida.

Por medo, a ilusão dança em festas e momentos, em sorrisos e conquistas frágeis onde ninguém expõe o real de si mesmo, vendendo um produto bem acabado, perfeito, mas imaginário, fabricado sob medida para o desejo do outro ... e ao amanhecer de uma noite que pode durar horas, dias e até meses, descobrir que foi mais um tempo perdido, fingindo para o mundo e para si que está tudo bem, que “a fila anda”, quando na verdade, aconteceu outra marola sem condição de movimentar sequer um barco de papel.

O medo do que pode dar certo e suas mudanças é o próprio medo de olhar-se no espelho de uma forma corajosa e se descobrir um humano que requer um outro humano para ficar completo e inteiramente livre de verdade. Não uma metade ambulante fingindo que o tempo passa devagar.

CATAVENTO

NINO BELLIENY

PRUDENCE

ÁRVORES

NINO BELLIENY


Escrever é estar feliz e falar de tristezas. Triste, dizer sobre felicidade. Desanimado, narrar a euforia. Vibrante, comentar depressão. Viver inúmeras vidas. Ocultar-se e revelar-se. Ser tudo e serenata. Ser nada e ser canção. Na memória do leitor durar a eternidade. Ou apenas dois segundos.
Nino Bellieny

De vez em quando ouço alguém dizer que mudou de opção sexual porque decepcionou-se com o sexo oposto. De todas as desculpas para o que não precisa ser desculpado nem explicado, é a mais esdrúxula que conheço. (Como se decepções dependessem do sexo e não do caráter). 

AOS QUE ESTÃO CANSADOS

NINO BELLIENY
Não adianta. Não mudarei o mundo distribuindo conselhos, corrigindo erros alheios ou criticando atitudes. Em mesas de bares e festas, quantas vezes assisti à memoráveis reuniões vazias em torno dos defeitos ... de quem não estava presente. E quando um dos mestres da mesa se ausentava,passava este a ser o criticado da vez.

Inúmeras foram as ocasiões em que, eu também, cheio de razão ensinei a amigos e até a estranhos o quê e como fazer. É claro que não fizeram ,como eu , aliás, ignorei muitos conselhos, alguns de rara importância. Mas,não adianta. Não mudei nem mudarei o mundo. E sei que só há um modo de fazê-lo. Mudando a mim mesmo. Enquanto não viver tão simples verdade e toda verdade é simples, desperdiçarei grandes momentos.Talvez por isso me sinta cansado.

Cansado de ver grandes amigos, do tipo que anda, viaja, trabalha junto ...grandes amigos inseparáveis até o instante em que um está longe do outro e desanda a entregar os vacilos do distante. Assim como inacreditáveis esposas e namoradas a desabafarem dos amados em todo os sentidos do negativismo e em seguida passarem abraçadas e felizes com os malditos cujos.

De presenciar cenas de traição em todo os modos e nada poder fazer.Tantos livros excelentes, a Bíblia e suas sagradas lições, as missas e os cultos, as músicas , os hinos, os poemas, os belos filmes e a vida do vizinho continuando a ser mais interessante do que tudo isso. A inveja do colega de escritório.

A revolta por que o outro tem e ele não tem, a raiva por que uma vai à festa e a outra não. Tantos bons exemplos e preferimos seguir os piores. Quanta palavra de paz perdida em ouvidos cujas bocas preferem o uso da calúnia. Milhares de “dizem”,” ouvi dizer”, ”corre um boato”, ”estão dizendo”, me contaram”, começando informações distorcidas, inverdades magníficas a destruírem vidas e auto-estimas.

Gente com vergonha de defender alguém ,mas, sem nenhuma para atacar. Amigos se silenciando para não serem chamados de puxa-sacos. E todo aquele que usou ou usa da maldade para se dar bem, se dando muito mal. Nem por isso as pessoas aprendendo. Nem por isso compreendendo que a vida castiga duramente os dissimulados, pérfidos e falsos.

Porém,cada qual achando-se dono da razão, justificando os atos de vingança e as manobras do absurdo como ferramentas divinas. Mesmo assim, o mundo não mudou. Então, o que sinto é um baita cansaço envolvendo-me em pesado manto de desânimo. Não posso conscientemente ser mais um imbecil, continuar fariseu, permanecer prisioneiro de um cenário onde todos fingem ser bons samaritanos. Um monte de atiradores de primeira pedra ,segunda, terceira, uma pedreira inteira.


Da tela do computador meu olhar vai até o crucifixo sobre a estante. Analisando a expressão de agonia e êxtase do Crucificado consigo perceber, num átimo, mesmo sendo uma escultura, a essência de tudo o que as palavras jamais dirão. As forças retornam. Se Ele foi ao máximo da renúncia e da dor para que o mundo mudasse , por que eu ,que , jamais passei ou passarei pelo mínimo do mínimo do que Ele sofreu, devo desistir tão facilmente?



O que sinto então é vergonha. A saudável vergonha dos que muito ainda tem o que fazer. Exatamente começando por mim mesmo.

BREVE POEMA DO TIGRE

LUCIDEZ É APENAS UMA INCAPACIDADE DE SONHAR PERDIDAMENTE.
NINO BELLIENY 

QUEM É VOCÊ?

NINO BELLIENY


Há uma grande curiosidade sobre o outro. Quem é o outro, suas preferências sexuais, televisivas, culinárias, se gosta do amarelo, do vermelho, se come feijão com arroz, sardinha, picanha, caviar ou só arrota sabores que não digeriu. 

Todo o mundo quer saber a marca do whisky que o outro bebe, quanto ganha, quanto gasta,se roubou para ficar tão rico de repente, qual o preço que pagou para chegar aonde chegou e qual o preço que cobra para se vender. 

Indivíduos são julgados e condenados moralmente e à revelia, sem sequer saber que estão sendo linchados por uma “opinião pública”. A roupa que usa, o carro que dirige, o restaurante que frequenta, se sai demais nas colunas, se troca muito de mulher, se troca muito de marido, se trata bem a família, se gosta ou não de crianças,se esbanja, se é mão fechada, se sorri demais, se fecha a cara, se é esnobe ou simpático, se é gente boa para uns, pode ser péssimo para outros, se...se...se... 

Este julgamento é diário, coletivo, individual, e o veredicto é imediato. Reputações são abaladas, por vezes destruídas, demorando bastante para que o “julgado e condenado” consiga mostrar com suas atitudes corriqueiras que foi apenas vítima e não réu. Por trás, orquestrações bem feitas, muitas vezes com apoio midiático, revelam agentes poderosos com o único intuito de destruir algo ou alguém. Em tempo de campanha política,então,tal tribunal inquisitorial age 24 horas por dia.


Mas, estamos todos sujeitos. Principalmente os que vencem por conta própria; os que se garantem; os que lideram; os que se bastam. São os que mais atraem atenção e a sanha dos invejosos, dos fracos, capazes de só tentar desmoronar as obras alheias, sempre em bandos e alcateias. Felizmente, para eles, existe a lei do esquecimento e da auto-derrota. E a mais forte de todas: a lei de Deus. Ou seriam abutres de difícil eliminação...

UMA NOITE TEM QUE SER A DA CAÇA

NINO BELLIENY


Uma à uma, as pessoas foram saindo da mesa na praça onde a voz solitária de um cantor acompanhado de seu violão vinha molhar os paralelepípedos com canções antigas e sereno. 

Garrafas de Skol Beats e copos com restos de limão e cuba libre espalhados sobre o tampo amarelo da mesa passaram a ser a companhia do homem e suas histórias voltando em velocidade. Pensou que estava em um velório, dos que no avançar da madrugada vão ficando só a mãe do defunto e um bêbado qualquer. 

Parecia também carro com pneu furado às margens de uma Br, tarde da noite, quando ninguém tem coragem de parar para ajudar ou mesmo vontade de. Não custou a entender o que estava acontecendo... inclusive merecia o vazio administrado em gotas de chuva que lhe batizaram a nova condição de bobo apaixonado. Um dia também fizera algo assim com ela, aquela que agora dizia que iria ali e já voltava... 

Dez minutos, vinte, trinta, quarenta... uma hora se passou e ela não retornou nem jamais retornaria. De começo, sentiu-se tolo, um pouco de raiva por acreditar que teria ido realmente buscar uma foto. Em outra cidade talvez. Em outro país. Depois, o velho bom-humor retomou-lhe as rédeas da reação e riu, um riso pacificado de quem sabia estar pagando com juros totais o que fizera um dia àquela a quem agora prestava contas, todas de uma vez. 

Riu o suficiente para não deixar mais amargo o gosto da cerveja esquentando no fundo da noite. Mas a falsa alegria não duraria muito tempo diante do gesto bem pensado, da estratégia de vingança se abatendo e ele sentindo-se inútil e perdido, mergulhando então no escuro da estrada que leva tudo e todos para longe... menos o sentimento de derrota e de um tempo sem volta.

CICLO LÍTICO

NINO BELLIENY


Político
Pó lítico
Prolixo
Pro lixo.

ALMA

O SÓLIDO ESTADO GASOSO DA DISTÂNCIA

NINO BELLIENY


Quando a mensagem chegou via Internet, percebeu-se claramente o quanto o tempo havia passado. Pelo tom triste das palavras bem encadeadas em frases delicadas, pelo aroma invisível e impossível de ser esquecido de cabelos molhados de chuva e shampoo . Agora, olhando para uma tela fria e luminosa, enchendo os olhos d’água do grande mar do afastamento sem nenhum motivo, sem nenhuma razão mais forte. Separações tornaram -se normais como se fossem apenas intervalos comerciais ou filmes que ganham continuidade. Mas nem sempre há uma segunda parte e histórias bonitas cheias de vida e potencial de bilheteria naufragam, vivendo apenas num roteiro que jamais será produzido.

OUVIDOS DESANIMADOS OLHOS ATENTOS

NINO BELLIENY


Depois de tantas conversas e falações perdidas pelos salões de nossas orelhas, vamos aprendendo o verdadeiro significado das palavras. Embrulhadas pelos sentimentos de quem as diz, se tornam valiosas ou lixo dourado. Adjetivos que banhados em ironia se transformam em feitiçaria. Feitiçaria que desmonta vidas por dias e dias, quando quem ouviu finalmente entende o significado das palavras doces, depois amargas, na verdade mísseis de efeito retardado.


Aprender a reconhecer o veneno que escorre em frases bem feitas é arte que só o tempo ensina a farejar. Gente que diz uma coisa com a boca e outra com os olhos. Que não encara o interlocutor e quando, é cara de pau, felizmente denunciada pelo brilho do óleo de peroba em excesso. Frases rebuscadas, longas e cheias de efeitos, acompanhadas de tapinhas nos ombros e sorrisos de fraca luz.

É o tempo que vai sendo passarela de inúmeros tipos de alma vendida, interessados em assassinar sonhos alheios depois de terem visto os próprios abortarem.

Estão em toda a parte, não só na política profissional, lugar onde se tornou comum colocar as mazelas e defeitos do ser humano como se só ali acontecessem. Falsos e sem-caráter estão em todas as áreas. Na saúde, nas comunicações, na pedagogia, nos negócios, nas artes, nos esportes, onde houver gente e sede de poder eles nadarão de braçadas.

Os melhores elogios, uma boa frase, as mais belas palavras, no entanto, não podem ser ignoradas ou desprezadas. O tempo também ensina a reconhecer quando são faladas com sinceridade e isso só mesmo na prática.Ou, deixaremos tristes quem realmente gosta da gente e através de uma fala carinhosa tenta nos dizer que somos importantes para elas. Talvez explique a razão de muitos preferirem dizer através da escrita, da música, de um presente ou de um forte e honesto aperto de mão. Para não serem confundidos na intenção de se mostrarem íntegros. 

Por mais que nos achemos espertos e capazes de lidar com o pior e o melhor do outro, todo o cuidado é necessário para não cometer-se injustiça. Melhor atender a um falso deixando-lhe pensar que nos iludiu que decepcionar a um justo fazendo-lhe acreditar que duvidamos dele e do que foi dito.

O sem–caráter não se abala, mas, o correto se envergonha e fica difícil recuperar dele o respeito e a consideração antes tão devotada.

Enfim, enquanto a grande arma do falso amigo é tornar-nos tão ou mais falso do que ele, quando nos obriga a jogar com as mesmas táticas, ser sincero é o mínimo que devemos ser com quem conosco também é.

Até o dia em que todos percebam como a falsidade pode dar a sensação de poder e vitória. Somente a sensação. Nunca a certeza da realidade.

SEULEMENT JE SAIS QUE JE T'AIME

Do fundo vem o melhor: petróleo, água, ouro, amor.
NINO BELLIENY

QUO VADIS?


O som de seu nome será como uma prece 
e não haverá igual em todo Universo.
NINO BELLIENY

SIGA A SETA

NINO BELLIENY


Me disseram que se eu trabalhasse muito
Teria todas as coisas necessárias e conforto.
Que se eu estudasse com afinco
Depois de cinco, oito anos ou mais
Teria um diploma na parede
Um Dr. antes do nome e todo o respeito.

Me falaram que se eu me dedicasse à honestidade
Votasse nos homens de bem
Seria ideal o meu pais e a minha cidade
Votei e os homens estão cheios de bens.

Me contaram que se eu obedecesse as leis
Estacionasse nos locais indicados
Não jogasse rua no lixo
Seria cidadão e não meio-homem, meio-bicho
Como tantos deitados nas calçadas das igrejas.

Que se eu servisse à Pátria
Aos pastores e sacerdotes
Evitasse a cobiça, gula, luxúria e os demais pecados
Não seguisse a bandeira de Iscariotes
Fosse cego e surdo como os postes
O Céu me seria reservado.

Ai eu seria feliz como num Domingão do Faustão
Meu carro popular na garagem
Minha inércia chamada de descanso
E minha fraqueza batizada de coragem.

Me politizaram com futebol, novelas, bebidas alcoólicas
Drogas lícitas, ilícitas e pregações apostólicas
Seja um bom homem, respeite os limites
Faça uma poupança, forme uma família
Eu e outros milhares seguimos a cartilha
Nascendo entre raspas, vivendo entre aspas, morrendo entre caspas
Etapas e beijos técnicos sem amor real.

Acreditando em sonhos vendidos em intervalos comerciais
Vivendo numa imensa fila de agência bancária.
Sepultando-me em vidas perfeitamente normais.

Até o dia da ressurreição final.

I MISS YOU


Só pra sua voz soprar em mim 
pedi ao vento  que parasse.
NINO BELLIENY

PROVENÇAL

NINO BELLIENY


Acredito em anjos, milagres, Deus. Respeito todas as religiões. 
Mas, não tento convencer a ninguém com a minha fé. 
Se meus exemplos não servirem para nada, não serão as minhas palavras.

LOURA BLUES

NINO BELLIENY


Deus proteja as louras
De todo o mal.
São milhares de olhos sobre elas
E toda proteção é necessária.

São o inconcebível
E mais alguma coisa
Dentro de um cesto cheio de sentidos.

Anjos da vida e da morte
Delicadas bandidas
Seqüestram e torturam
Decididas a nossa sorte


Deus abençoe todas as louras
De farmácia ou originais
Suaves meninas inocentes
Doces pecadoras mortais.

Todas têm cara de santa
E realmente fazem milagres.
Nada temem
Exceto baratas e outros bichos.

Precisam muito de afeto e segurança
Para seguirem pela estrada a fora bem contentes.

Deus proteja as louras
Dos raios solares em demasia
A pele delas é céu
Cheio de estrelinhas.

E das barbas por fazer.
Nelas deixam pescoço, colo e ombros
Vermelhos de prazer.
Bocas ávidas impiedosas
Lambem-mordem deixando súbitas tatuagens
Na doçura de toda loura.

Louras deliciosas assassinas das horas
Não suportam tédio, filme repetido, figurinha repetida,
Histórias iguais.
Esnobam bajulações
Detestam cantadas comuns.

Beliscam o impossível com dedinhos firmes e suaves.

Loura não tem defeitos.
Nela defeito é qualidade.
O errado é um charme a mais.

São perdidas
Difíceis de ficarem paradas num só lugar
Quando a olhamos pela segunda vez
Já não mais estão.

Preferem o carinho dos espinhos
Ao roçar das rosas.

Se lhe perguntam o sexo, responde discretamente:
- Loura.

Não acredite em loura burra
Isto é mito
Para enganar outro tipo de burro.

Por isto elas são assim
Dissimuladas, tentadoras
Feitas de aço maleável
Equilibradas sobre o inesperado.

Deus me proteja
Da desmemória das louras.

São definitivas em tudo
Muito mais na arte do esquecer.

Ser apagado por uma delas
É desenhá-la pelo resto da vida.

A FUGA