11 de out. de 2011

LEIA A BULA ANTES

NINO BELLIENY

Quis ser a crônica não escrita. E conseguiu. Quis ser a palavra não dita, passar em branco, não precisar dizer adeus. Quis não se machucar de novo e não se importou em machucar quem nada tinha a ver com velhas mágoas. 

Repetiu a cena, só que agora não foi mais a vítima e sim a caçadora. Deveria haver uma lei protegendo as pessoas de entrarem em vidas mal resolvidas evitando assim acúmulo de dores numa novela sem fim. Uma placa que avisasse: "Cuidado, coração danificado sujeito à instabilidades ". 

Entrariam só aqueles que tivessem a coragem necessária para atravessar um terreno minado. Sem avisos, a paisagem tranquila funciona como um convite. Um coração canibal se alimentando mais uma vez. 

Quis ser o poema sem nome. Alcançou o que queria. Não se importou com a fragilidade exposta e a saudade que um dia seria insuportável. O importante era proteger-se, evitar o confronto, agasalhar-se na confortável concha da solidão. 

Sem sustos, sem o risco de novamente conhecer a cor cinzenta do abandono. Para isso, que se virasse o mundo. Se fosse egoísmo, se fosse medo, qualquer coisa incompreensível para quem nunca passou por igual, ainda assim valeria à pena. 

Quem já apanhou da vida entenderia. Quem viu sonhos se espatifarem e uma realidade inteira vazar pelo ralo saberia a razão de tanta defesa num castelo de areia. Azar de quem achou que pudesse quebrar o encanto e atravessar as barreiras. 

Diante de tantos canhões e baterias antiaéreas, convidado a retirar-se, ainda que pareça covardia, acabou sendo a melhor estratégia, enchendo o porta-malas de sonhos em pedaços, começando outra vez a não acreditar tão cegamente em impulsos e intuições. 

Aprendendo a perdoar. Única maneira inteligente de esquecer.

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