Ainda há muita gente educada e honesta. Cuja palavra vale mais do que a assinatura. Brilho nos olhos, entusiasmo latente, boa vontade, amor ao próximo e ao distante. São muitos, embora não sejam de alarde e propaganda. Reconhecê-los é coisa que começa de dentro para fora.
Imprevisíveis de tanto serem, tornam-se previsíveis.
O surpreendente vem mesmo é do monótono. Nino Bellieny
Guardam-se angústias dentro do que melhor se aprouver. Garrafas, copos, chocolates, canetas, notebooks, comida, carros, motos, violões, tatames, porradas. Até que elas vazam e levam em direção ao Mar da Eternidade do Esquecimento todo o vazio fermentado.
Eles não ganham medalhas Sequer de lata ou papelão Encaram 12 horas ou mais e não levam título de campeão Cortam cana Roçam mato Tiram leite Cuidam do gado e da plantação Sustentam este país e por ele são esquecidos Ofendidos e humilhados Por essa gente da cidade Que acha que tudo vem do supermercado Ou da tela da televisão até que um dia Essa gente descobre Ser do mesmo pó Do mesmo chão.
"Continuo quebrando-me. Apenas aprendi a recompor-me sem ajuda profissional ou externa de forma direta. Indiretamente, via livros, filmes, música, poesia e inteli-gente, por osmose e observação, colo novos pedaços e deixo outros se perderem."
Um cão passa pela rua. Sendo de algum conhecido, provavelmente o nome do animal também será. Ou é apenas um cachorro passando. Nomeado, terá personalidade: "É o Dylan, do meu amigo Renato." O nome dá vida. Colore. Cria responsabilidade.
Isto serve para sensações e sentimentos. Nomeá-los ou não. Sendo bons, chame-os intimamente. Não sendo, não os batize nem os registre. Não crie intimidade com o que não presta e sairá do seu coração mais fácil. Ignore o mau sentimento e sequer apelide-o de "Ruim".
Deixe-o simplesmente inominável. Em breve, não terá mais poder de afetá-lo.
Todas as manhãs, milhares de garis pelo mundo afora catam corações em pedaços, carcaças amorosas, espinhelas caídas, paixões apodrecidas, mágoas besuntadas, lágrimas em pó, ódios triturados e muitos outros sentimentos mal usados e descartados. Enchem o carrinho, lotam o caminhão, levam ao lixão.
A maioria se perde, uma parte se recicla e volta para os mesmos bonecos de carne dando-lhes o sopro necessário para mais um dia. Quem não aproveita o reutilizado, vai aos shoppings e supermercados emocionais, compra outras inutilidades estalando de novinhas e reinjeta nas veias as novas velhas dores sem as quais não vive.
Não sou professor da vida. Da minha mesmo aprendo e desaprendo. Não posso ensinar o que ainda não sei. Afirmar, só o que passou e se passou, como afirmar? Tantas certezas em bocas incertas, tontas frases repetidas, tudo é um grande deserto se não tivermos paciência para o oásis. Senhores do absoluto, senhoras do exato, continuem mentindo para olhos e ouvidos externos. Vossos travesseiros é que sabem bem sobre vós.
Passado é o nome destas meias e inteiras dentro da sua mala. Carrega para todo o lado. Tem artigo de primeira e papéis sujos. Ela se arrasta, ela flutua, depende do seu humor momentâneo. Só não invente que está cheia ou vazia,( vazio também pesa e muito), por culpa de outros. Esta desculpa não! Ela completa a sua mala de tão forma e jeito, tornando-a molhada, sem alças e rodinhas, mesmo num dia de sol. Todo fraco é forte em desculpas.
Me disseram que se eu trabalhasse muito Teria todas as coisas necessárias e conforto. Que se eu estudasse com afinco Depois de cinco, oito anos ou mais Teria um diploma na parede Um Dr. antes do nome e todo o respeito.
Me falaram que se eu me dedicasse à honestidade Votasse nos homens de bem Seria ideal o meu pais e a minha cidade Votei e os homens estão cheios de bens.
Me contaram que se eu obedecesse as leis Estacionasse nos locais indicados Não jogasse rua no lixo Seria cidadão e não meio-homem, meio-bicho Como tantos deitados nas calçadas das igrejas.
Que se eu servisse à Pátria Aos pastores e sacerdotes Evitasse a cobiça, gula, luxúria e os demais pecados Não seguisse a bandeira de Iscariotes Fosse cego e surdo como os postes O Céu me seria reservado.
Ai eu seria feliz como num Domingão do Faustão Meu carro popular na garagem Minha inércia chamada de descanso E minha fraqueza batizada de coragem.
Me politizaram com futebol, novelas, bebidas alcoólicas Drogas lícitas, ilícitas e pregações apostólicas Seja um bom homem, respeite os limites Faça uma poupança, forme uma família Eu e outros milhares seguimos a cartilha Nascendo entre raspas, vivendo entre aspas, morrendo entre caspas Etapas e beijos técnicos sem amor real.
Acreditando em sonhos vendidos em intervalos comerciais Vivendo numa imensa fila de agência bancária. Sepultando-me em vidas perfeitamente normais.
Eu não sou milionário. Não sou feliz(!) o tempo inteiro. Não tenho carro conversível nem quero convencer a ninguém. Tenho coragem e tenho medos, forças e fraquezas.
Eu não estou o tempo todo em Búzios,Trancoso, Floripa, Paris, Milão, Nova Iorque... não tiro fotos sorrindo, brindando, fazendo biquinho, dentro de piscinas ou festejando 24 horas por dia.
Eu cumpro missões e compro missos. Ralo muito e com prazer. Faço amigos e desfaço, pois não sou obrigado a ser como eles querem nem eles como eu acho certo.
Ao final, ficam os realmente bons. Acredito, desacredito, sou movido pela emoção e pela honra. Eu sou apenas um minuto por vez, não sou melhor nem pior. Eu... sou diferente e igual a todos vocês.
Vivo da palavra. Tenho que ser de palavra. Lavrar o papel e o ar em volta. Arar, plantar, colher. E novas palavras semear. A responsabilidade do dito é minha. Do interpretado não. Mais cuidado ainda devo ter. Palavritudes. Palavras com atitudes.
Sei que dentro de cada pessoa ignorante-fútil-arrogante-presunçosa há uma alma de criança aprisionada e insegura. Pena que nem todos nós sejamos babás.
Nino Bellieny
Amar-se em alta conta é o único remédio para a dor de não ser amado por outra pessoa.
Nino Bellieny
6 de jul. de 2012
Gosto dos arrogantes, soberbos e jactanciosos. Não gosto dos mornos, parvos e dissimulados. Dos primeiros, gosto, porque não fingem e ensinam-me a não ser assim. Dos outros, nem preciso gostar...
Nino Bellieny
3 de jul. de 2012
Te machucaram? O vento resolve. Traz de volta, manso, quem deu a pancada. Ou leva para longe, muito longe de ti.