24 de out. de 2011

COMO UM RIO QUE CORTA A FLORESTA SUAVE NO INVERNO E NERVOSO NO VERÃO

NINO BELLIENY

Quando acorda, voz é um murmúrio, passarinhos vem em silêncio ao amanhecer, estudar aquela forma de música. As mãos esfregam delicadamente os olhinhos apertados de quem sonhou aquilo que precisava sonhar. 

Levanta-se bem devagar, esticando os braços e as pernas, deixando a luz do dia penetrar sem pressa os pensamentos. Ficará alguns minutos assim, flutuando entre o vago e o neutro, uma zona fantasma onde o tudo já é antes de vir a ser. 

Depois, o corpo sempre tão desejado caminhará na ponta dos pés em segredo pelo chão do quarto, parando em frente ao espelho onde milhares de combinações possíveis serão articuladas em poucos segundos. Idéias e estreias de novos sorrisos, estratagemas, planos fugazes, ensaios de um novo tipo de olhar, quem sabe o definitivo deste verão? 

Em uma bandeja de prata receberá a cabeça do dia que começa e novamente será a mulher que caminha na direção de um sonho e muitas duvidosas certezas irão transformar o rosto bonito em centenas de faces ao longo do dia. 

E na hora mais improvável será doce e terna, leoa que ruge em outra, pantera em silêncio antes do salto, gata que ronrona, enfim, mulher que não sabe bem o que quer, mas tem certeza absoluta do que não deseja. 

Ao chegar do sono, será outra vez a menina entre os lençóis. Terá amado ou odiado muito, nada em meio termo, nada pela metade morna do que a bíblia condena. 

Até mergulhar nos travesseiros e pulsar como as estrelas distantes. Para renascer totalmente diferente no amanhã.

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