31 de out. de 2011

CALIBRE 16

ACORDAR

NINO BELLIENY 
Abriu os olhos, espreguiçou-se, saiu da cama. A mente inerte até o pensamento na figura amada desalmada relampejar com a lembrança da despedida despedaçada. Vai ser difícil o dia? Os dias? Claro! De garantido, apenas a força duplicada para seguir e a certeza de tudo passar. Ou já se esqueceu das outras porradas? Não passaram? Então. Agora é só você e não mais a dependência das muletas sentimentais.

29 de out. de 2011

NOVOMUNDOVELHO

NINO BELLIENY 
Os inocentes dormem. Os injustos despertos e espertos os alimentam com sonhos de consumo e programas de tv. À espera do invisível, na soleira da porta, lendo as velhas notícias no laptop, checando emails e as redes sociais, o homem nem bebe mais. Novos vícios queimam lentamente seus neurônios.

ONTEM À NOITE

NINO BELLIENY

O carro vai engolindo a escuridão. Os faróis batem na cortina de chuva enquanto os pneus chupam o asfalto. A velocidade se atenua e não é só por receio. Para prolongar a sensação de ser tragado pelo nada alivio o pé no acelerador. A música enche o carro, a chuva aumenta, eu deveria parar antes que as quatro patas de borracha pulem do chão em alguma curva. Prossigo na vertigem calma hipnotizado pelo limpador de parabrisas. Esqueço de onde estou vindo e aonde quero chegar. Ultrapasso os poucos caminhões da madrugada e a chuva é a melhor companheira. Enquanto não chego e não quero chegar, também a gasolina escorre em minhas veias e por dezenas de quilômetros eu sou feliz. 
Só os retrovisores insistem numa outra versão.

28 de out. de 2011

....

Redes Sociais, celulares sofisticados, sistemas avançados de comunicação.
 E as pessoas cada vez mais se estranham.

NINO BELLIENY

SE EU ME LEMBRASSE

NINO BELLIENY

ADRIANA
Na hora em que a curva mais perigosa se aproximava Adriana pulou de mim em alta velocidade.
LETÍCIA
Eu tremia quando ela chegava. Quando saia, eu era um milk shake de ovomaltine.
VALÉRIA
Quase fiquei noivo. Tínhamos tudo para dar certo. Por isso deu errado.
AMANDA
Era muito mais jovem do que eu já fui um dia.
SANDRINHA
Meu primeiro beijo de exploração submarina.
MARIA
Uma santa. Até ser tocada.
LOLÔ
Uma sereia. Engasguei-me com as espinhas.
CLÁUDIA
Muita areia e eu nem caminhãozinho tinha.
GIZELE
Apaixonou-se em 16 segundos. Em 8, me esqueceu.
BETÂNIA
O sotaque mineiro era a segunda coisa em que eu mais prestava a atenção.
LIVIA
Sempre gostei dela. Lívia sempre não quis ficar comigo.
FERNANDA
Gênio terrível. Não saia da garrafa.
MELISSA
Nome de sandália. Vivia se arrastando atrás de mim.
THAIS
Bem que me avisaram.
FLÁVIA
Nem sei porque me lembrei.
STEFANIA
Tão doce. Engordei muito.
LIA
Vivia para os livros. Casou-se com uma traça.
LUCIANA.
Beber igual nunca bebi.
JANAÍNA
Deixava o juízo em casa todos os finais de semana.
LAURA
O mundo girava demais com Laura. Fui centrifugamente cuspido .
VAL
Me deixou e eu me deixei.
GRAZIELA
Atravessava a fronteira todos os dias para ficarmos. A fronteira foi aumentando, aumentando...
NORMA
Com ela quebrei todas.
MILENE
Saiu. Voltou. Saiu.
MARCINHA
Era gostosa de doer. E só doeu quando fiquei sabendo que eu fazia parte de uma cooperativa.
KAREEN
Anestesista. Louraça. Inteligente. Sabia me deixar inerte.
LÍVIA II
Cardiologista. Só não deu jeito no meu.
MARA
Delegada. Tinha mania de algemas.E de esquecer aonde estava a chave.
ZYKYA
Enfermeira. Me machucava. Cuidava. Depois tornava a machucar.
CAROL
Um espetáculo. Por isso custava caro.
CRISTINA
Uma Princesa. Tinha um pitbull chamado Jack Daniels como guarda-costas. Só as costas.
BIANCA
Nunca me viu sempre me amou quando viu desanimou.
PATRÍCIA
Radiologista. Via através das paredes. Mesmo a quilômetros.
ANDRESSA.
Me apresentou aos pais e ao stress.
BIANCA II.
Farmacêutica. Adorava me manipular.
MÉRCIA
Não comia. Não falava. Não bebia. Também não...
ROBERTA
A mulher perfeita. Como todas em que tudo acaba antes.
ROSÂNGELA
Me levou ao paraíso. Pago as contas da viagem até hoje.

E no mais... todas tão- desiguais- únicas- para- sempre.

27 de out. de 2011

PERTO

 NINO BELLIENY 
Se eu disser que te escuto
 Ao longe, muito longe
Além da minha audição
Se eu disser que te acredito
E me emociono
Em cada palavra enviada
Não interrompas o encanto
E mesmo ao longe, muito longe,
Continuará a música da chuva.

26 de out. de 2011

PROFECIAS

NINO BELLIENY 
Lânnia não era complicada, era impossível. Dos olhos desciam chuvas de ira quando contrariada e até a mãe tinha que ter muito tato pra chamar a atenção da menina instável. Isso aos dez, doze anos. Verdes aqueles olhos dariam mais complicações quando maduros e aos dezoito de idade no pico da beleza selvagem em curvas e firmeza, a cidade estremeceu ao amanhecer sabendo da última de Lânnia. Fora morar com D. Matilde, a viúva do prefeito. Coroa farta em poder, sólida em carnes ainda desejadas e dinheiro sem fim. Ambas nunca fizeram alarde e se experiências outras tiveram, foram secretas o suficiente para o abalo sísmico agora causado. A loura gostosa e a mulher fundamental, de braços dados no cinema, aos beijos no restaurante espanhol, entrando e saindo muitas horas depois no Salitre, viajando para Roma, vivendo um amor sem regra e sem pudor. As labaredas arderam semanas e as duas nem aí. Queimavam mais ainda no altar das próprias vontades. Tamanhas que influenciaram outras descobertas e em breve Balentas, à força das pioneiras, ganhava o codinome de Cidade das Amazonas. Homens passaram a ser detalhes. E nem por isso o mundo acabou em fogo como do alto do púlpito gritou durante sete domingos seguidos o Pastor Jeremias.

UMA FOTO É O MEU MAPA

NINO BELLIENY

Só usamos mapas para ir a lugares aonde nunca estivemos e mesmo assim as surpresas não estão previstas nele. Olho nos olhos bem abertos da foto. O dia parece que vai começar e eu ainda não dormi. A chuva na vidraça vai desenhando trilhas que não se repetem, peixes no aquário namoram seus próprios reflexos e os olhos da foto me dizem tanto.

Eu quero estar dentro da imagem e passar as pontas dos meus dedos cansados no rosto que brilha. Escrever entre as sobrancelhas, escorregar pelo nariz e mergulhar aonde nasce o sorriso mais ensolarado que eu jamais vi. Qual será a cor do perfume dela? Qual será o perfume da sua cor? A pele é macia e firme, isso nem preciso imaginar. O veludo dos lábios envenenam os meus e se eu morrer, não será em vão. 

O que me suspende em fios tão finos quase invisíveis é o olhar manso e selvagem em extremos iguais e simultâneos. Ele me leva sem fim ao fim sem começo. A mulher da fotografia é uma mágica acontecendo diante da saudade e magia não se explica.

Sou a imaginação abraçando o corpo na fotografia enquanto tento adivinhar cheiro de xampu, tecitura de cabelo, suavidade de mãos e pressão de coxas contra coxas. De novo e para sempre o imã da pele não permite afastamentos. Pretendo muitos poemas com a minha língua em suas pétalas e tenho receio de imitar um beija-flor descontrolado e depois voar sem rumo. 

Medo é coisa pra se sentir na hora e nunca antecipado. O que sinto agora é o coração disputando uma partida de futebol contra si mesmo faltando apenas um minuto para o jogo terminar. Os olhos da fotografia, no entanto me acalmam, conversando a canção do silêncio que me fala tudo o que necessito:“ Não tenha pressa, o tempo de nós dois é como uma nuvem que não avisa... mas, vem.”

24 de out. de 2011

HOJE EU VI O AMOR PASSAR

NINO BELLIENY

É Fazia tempos não se via aquele rosto tanto que até esquecera como era e o brilho translúcido de uns olhos claros como faróis numa noite de luar depois de uma tempestade de verão em alguma praia preferida onde se descobre pela primeira vez na vida a desimportância das vírgulas e dos pontos diante do olhar de quem se pensa ser aquela a verdadeira mulher amada pelo resto dos dias até descobrir-se a primeira vírgula, e o primeiro ponto.

Na mudança de parágrafo, no início de um outro período, se depositam esperanças e expectativas. Ambas geradoras em potencial de desencantos e frustrações. Num instante, o cru coração disparando pelo peito, um descompasso rasgado de quem está crente ter sido tocaiado pelo impressionante, imprevisível, porém tão ansiado amor. 

Quatro letras e tantas definições indefinidas, um turbilhão de máquina de lavar roupas onde a anatomia descreveria uma caixa torácica. Nada de pensar, nada de verbalizar. Saberá e não se saberá o que é, apenas que queima, acalma, agita, alivia, aperta, folga, bate, apanha, rebate, dança e pula como pipoca escapando da panela. Para cair na boca do fogão.

Tantas palavras não para se descrever o indescritível contido em quatro letras...mas as sensações e o sentimento. Fazendo força para não se esquecer jamais que as sensações passam, mas o sentimento, este permanece além da vida. E da morte.

O SÓLIDO ESTADO GASOSO DA DISTÂNCIA

Quando a mensagem chegou via Internet, percebeu-se claramente o quanto o tempo havia passado.
Pelo tom triste das palavras bem encadeadas em frases delicadas, pelo aroma invisível e impossível de ser esquecido de cabelos molhados de chuva e shampoo.
Agora, olhando para uma tela fria e luminosa, enchendo os olhos d’água do grande mar do afastamento sem nenhum motivo, sem nenhuma razão mais forte.
Separações tornaram-se normais como se fossem apenas intervalos comerciais ou filmes que ganham continuidade.
Mas nem sempre há uma segunda parte e histórias bonitas cheias de vida e potencial de bilheteria naufragam, vivendo apenas num roteiro que jamais será produzido.
NINO BELLIENY

O QUE FAZER COM AS SEMENTES

Poucas dores causadas por sentimento , são maiores que a do abandono. É diferente da simples traição, do querer mudar de vida e de amor. O abandono em si , é contar com alguém e no momento em que mais se precisar deste, encontrar-se apenas com o vazio. A dor do abandono finca suas raízes no mais profundo do inconsciente e passa a ser uma outra espécie de amor... um amor ao contrário, beirando ao ódio. Revolta e mágoa se misturam, resultando num forte adubo para esta planta nociva cultivada em lugar onde não poderia.
NINO BELLIENY 

COMO UM RIO QUE CORTA A FLORESTA SUAVE NO INVERNO E NERVOSO NO VERÃO

NINO BELLIENY

Quando acorda, voz é um murmúrio, passarinhos vem em silêncio ao amanhecer, estudar aquela forma de música. As mãos esfregam delicadamente os olhinhos apertados de quem sonhou aquilo que precisava sonhar. 

Levanta-se bem devagar, esticando os braços e as pernas, deixando a luz do dia penetrar sem pressa os pensamentos. Ficará alguns minutos assim, flutuando entre o vago e o neutro, uma zona fantasma onde o tudo já é antes de vir a ser. 

Depois, o corpo sempre tão desejado caminhará na ponta dos pés em segredo pelo chão do quarto, parando em frente ao espelho onde milhares de combinações possíveis serão articuladas em poucos segundos. Idéias e estreias de novos sorrisos, estratagemas, planos fugazes, ensaios de um novo tipo de olhar, quem sabe o definitivo deste verão? 

Em uma bandeja de prata receberá a cabeça do dia que começa e novamente será a mulher que caminha na direção de um sonho e muitas duvidosas certezas irão transformar o rosto bonito em centenas de faces ao longo do dia. 

E na hora mais improvável será doce e terna, leoa que ruge em outra, pantera em silêncio antes do salto, gata que ronrona, enfim, mulher que não sabe bem o que quer, mas tem certeza absoluta do que não deseja. 

Ao chegar do sono, será outra vez a menina entre os lençóis. Terá amado ou odiado muito, nada em meio termo, nada pela metade morna do que a bíblia condena. 

Até mergulhar nos travesseiros e pulsar como as estrelas distantes. Para renascer totalmente diferente no amanhã.

22 de out. de 2011

ÔNUS

Diga 1 palavra boa para um autoconfiante e 10 nem tanto.Ele ficará com a melhor e descartará as outras ruins.Fale 10 palavras legais para um inseguro e 1 "mais ou menos".Aguente as consequências...
 NINO BELLIENY

SIMPLICIDADE

NINO BELLIENY



Conheço gente de todo o tipo. Gente que pretende passar uma imagem diferente do que é, e além de gastar dinheiro, desperdiça energia mental para manter uma atitude, um estilo de vida e toda uma ilusão, onde a principal vítima é ela mesma. 

A sabedoria oriental chama a isso de Kundaline, uma poderosa armadilha mental, capaz de envolver completamente a quem nela acredita, não se apercebendo de que está sendo sugado no que tem de mais precioso: o tempo presente, o aqui e agora. 

Mantidos por uma ilusão, viajam em demasia por universos paralelos em fuga constante e eterna insatisfação pelo que estão fazendo. Não é proibido sonhar, evidentemente. Há momentos memoráveis em nossas vidas, só possíveis porque o sonho veio antes. 

Ousou-se imaginar o impossível para que pudesse acontecer. Porém, sonhos sem comando, usados apenas como rota de escape, abrem a mente para inimigos como a preguiça e a esperança, esta, uma controvertida palavra que mal interpretada pode aniquilar aquele que apenas senta-se em um confortável sofá e espera as coisas caírem do céu.

Prefiro perseverança. O dom de acreditar fazendo por onde, buscar indo ao encontro e não esperando chegar ao alcance das mãos. Me recordo de um amigo de infância, sempre me pedindo para lhe indicar uma chance de trabalho. 

Esta surgiu em forma de representação comercial de uma distribuidora de bebidas. Ele teria que estar na segunda-feira seguinte, às 7horas da manhã para começar o treinamento e posterior contratação. 

Pensei que o mesmo ficaria feliz, afinal a chance tão procurada estava em suas mãos: salgado engano... era uma sexta, véspera de uma festa tradicional na pequena cidade onde morávamos e só terminaria na madrugada de terça. 

Até lá, shows, bailes, bebida e diversão, tornando-se difícil para ele, sair cedo de casa, pegar o ônibus, se apresentar e começar o emprego que tanto precisava. Mas não queria. 

“Segunda-feira? Mas... e a festa? Não tem outro dia?” Está até hoje esperando este outro dia. Sei de quem, para chegar aonde chegou, engraxou sapatos desde os 6 anos, varreu e lavou escritórios, foi mensageiro, pegou no pesado, trabalhou na roça, assumiu tarefas consideradas humilhantes, mas não fugiu da responsabilidade, estudando, acreditando, economizando e finalmente encontrando o próprio caminho. 

Sonhar sim, mas sempre tendo o sonho como alto edifício, onde cada degrau tem o seu valor para se chegar ao topo e de lá partir para outro e outro. Enquanto houver horizonte.

21 de out. de 2011

SEM DESRESPEITAR RENATO RUSSO

 É preciso amar as pessoas como se não houvesse ontem.
NINO BELLIENY 

FATOR X

NINO BELLIENY

NÃO TEMA DIZ O POEMA
NEM PELO ACASO NEM PELA CRASE
QUASE É TUDO PARA QUEM AMA
DESEQUILIBRE-SE NA FRASE
ARRISQUE-SE NO PROBLEMA.
QUEM SOU VOCÊ?
VOCÊ QUEM SOU?
AMOR NÃO TEM SISTEMA.

20 de out. de 2011

TEM UMA VANTAGEM

NINO BELLIENY

Lidar com gente ignorante: O problema é exposto na hora, não se acumulam mágoas. É sempre chocante, porém, evita-se ir além do insuportável ponto de atenção. É bom também responder à altura. 
Guardar aborrecimentos para explodirem no futuro, arrebenta o proprietário do cofre.

ANABELLA

NINO BELLIENY

Onde corre todos os dias, ao redor de um lago pequeno na chegada de sua cidade também pequena, para e às vezes, o reflexo que vê é só uma tristeza mais profunda do que o próprio lago. 

As águas são tranquilas, os círculos formados pelas pedrinhas atiradas pelas crianças e suas babás sonolentas provocam ondas singelas e silenciosas, mas até nisso, ela e o lago se parecem. 

Quem a vê nas raras festas ou na escola onde ensina a história do mundo e oculta a própria, logicamente jamais irá perceber debaixo daqueles olhos sonhadores pintados de águas mansas, o redemoinho constante, os peixes pequenos perseguidos pelos grandes, a vida aquática em ebulição letal. Sobre, é tudo mansidão. 

Superfície lisa de um imenso dia de sol, barquinhos de papel, casinhas borradas ao longe no morro, casais de namorados, a placa de “proibido pescar“ e ela comendo em círculos a vida em volta do lago. 

Tem tantos sonhos espatifados guardados em potes de maionese deixando pequena a estante onde tudo guarda como uma coleção preciosa. Tem tantos planos devastados e vontades incompletas por causa de um único amor demolidor. 

Agora é esta mulher envelhecendo em barcos de saudades partindo todos os dias para um lugar secreto onde ancora e vive outra vida ao lado do único amado, exato aquele que nunca lhe deu valor. 

No porto onde as portas se abrem e entra em mundos imaginários é feliz como uma rainha no topo da escada para o céu onde anjos lhe refrescam as faces com sopros divinos e ninguém lhe enche o saco, lhe perturba a paz. 

Só quer viver de saudade, de projeções do que poderia ter sido e jamais será. E daí ? Ali ela é feliz. Quem quiser que encontre a maneira adequada e pessoal. Ela, já estendeu a rede, dali, ninguém irá tirá-la.

NUNCA É TARDE

NINO BELLIENY

A chuva é lenta e persistente. A tarde desliza para dentro da noite.
O silêncio pode ser mastigado como chiclete sem banana.
Penumbra e frio no quarto crescente. O tempo saiu para passear.
A vida se enfia no edredom.

18 de out. de 2011

OS DIAS DE TRISTEZA TAMBÉM PASSAM

Costuma-se dizer que a alegria dura pouco. As músicas, os poemas, os filmes e os livros espalham esta frase como se fosse a única e definitiva opção de vida.
 
Mas não é. Os dias de tristeza, logicamente que pela intensidade da dor que causam, parecem ser eternos. Perturbam relações, afetam a rotina e o trabalho. Dependendo de como acontecem, podem se alongar em dias que de tão escuros, tornam-se noturnos. 

Uma notícia de morte, uma derrota financeira, uma fofoca destrutiva, uma amizade que não se mostra verdadeira, são brotos de uma planta daninha que podem causar estragos. 

Mas, embora possam tais malefícios parecerem eternos, não os são. Acima de todas as coisas, sempre existirá a verdade. Podem tentar distorcê-la, mas, sendo a máxima expressão de Deus, é invencível. 

Portanto, se o seu coração atravessa neste exato momento algum dissabor, saiba que como os dias de felicidade também se esfumaçam,os de tristeza se acabam. Relembre por alguns minutos, as alegrias e decepções sofridas ao longo de sua vida... 

Coloque-as na balança: qual lado está pesando mais? Reveja seus conceitos e atitudes, repense. Se for a tristeza, não se sinta culpado ou vítima, se for a alegria, não se sinta superior ou vencedor.

Tente apenas equilibrar os pratos, tendo como fiel, Deus. Assim, cada novo desafio que os dias de sua vida lhe trouxer, será encarado com fé e destemor. 

Ainda que os montes se abalem e os mares se agigantem, sua confiança não se abalará. Experimente.

A MULHER QUE ASSOBIA

NINO BELLIENY

O inesperado é o vento que sopra a vida. Em alguns dias só você percebe, sendo, provavelmente, ignorado pelos outros. Esqueça os outros. Eles estão ocupados com dinheiro, desejando estar em outro lugar, lamentando a perda de algo que não deram valor enquanto tinham ou à espera de grandes espetáculos. 

Os momentos mais sublimes raramente são compartilhados e mesmo que causados por alguém serão sempre uma impressão pessoal e única na frágil fita da memória. Pequenos milagres fugazes como uma fotografia não revelada.

Como na tarde em que eu vi a mulher que assobiava. Ela não se deu conta e feito passarinho, de repente estava a encher o espaço com encanto e leveza. 

Assim passarinho ela trinou alguns minutos, não se assustou nem bateu asas diante de mim. Com as aves devemos ter cuidado para não afugentá-las, aguardando que voltem outras vezes às nossas janelas cansadas. 

Com as mulheres também e ainda mais se for uma que assobia. Ela só dará tal presente se estiver feliz naquela hora, naquele tipo de felicidade que a pessoa nem percebe estar dentro. 

A mulher que assobia ou assovia – tanto faz a grafia – é uma raridade comparável às sereias e fadas, quase um mito. Sendo bela, mais bela será ao som do assobio de menina encantada. 

Ainda que retorne mais tarde, dor alguma resiste à mulher que assobia.

16 de out. de 2011

A FOTO

NINO BELLIENY

A foto me fita
Eu fito a foto
Evito o fato
Afasto no ato
O meu pensamento.

Uma simples foto
Rapta minhas pupilas
Mas, o mundo lá fora
Infelizmente me espera.

Quem será a dona do olhar
Onde mora
Em que lugar
Esconde se de mim?

Na legenda só um nome
No olhar a fome
De viver
Eu olho a foto
E a foto me olha.

Converso com a imagem
Telepatia e magia
Mas, é bem provável que ela nunca venha, a saber.
É só uma foto.

Mas, a mulher de papel
Trouxe luz para a minha noite.

E VOCÊ NEM PRECISA SABER

NINO BELLIENY

A lágrima que brilha logo vai secar
Assim que as ondas murmurarem o seu nome
Dentro dos sonhos mais impossíveis.
Seus olhos de alvorada incendiarão a manhã
Do novo dia apressado e faminto
Por outras histórias na areia
Que os dedos não puderam segurar.

Tristezas voarão para bem longe
Nas asas do passarinho cuja gaiola
Alguém cuidadosamente deixou aberta

Não há nuvens escuras no telhado do céu
Seus olhos de alvorada espantam
Mágoas que são aves de rapina
Prontas para devorarem corações felizes.

Nem tudo está confuso, nada ainda é perdido
Anjos vão sussurrar melodias em seus ouvidos
Aquelas que depois os ventos espalharão
Sobre o oceano iluminado de estrelas.

Nas pedras das ruas
Nas folhas frias do outono
Naquele que não esquece
No silêncio do tempo voraz

O som do seu nome será como uma prece
E nada haverá igual em todo o universo.

ATESTADO DE INCAPACIDADE

NINO BELLIENY

Ela está na estrada e nela estou pensando, pensando nela, não na estrada, que também é perigosa. Fico preocupado com alguém que nem se toca. Toca pra frente que a estrada é o futuro . 

Quero avisá-la dos contratempos, lembrar das curvas que conhece bem, do imprevisto na ponte, das retenções logo adiante. Ouço vozes que me dizem “não se antecipe, hoje vai dar tudo certo ela tem um anjo por perto”.
 
Devo confiar no além só meus olhos não fecham no aqui. Desejo saber como ela está e evito conexões, não é pelo preço da ligação é só não ser mais um monitorando- ser mais um eu não pretendo. E sou eu sei. Evito ciúmes ou pensamentos direcionados tenho sucesso na empreitada quando durmo pelo menos, mas, como tenho dormido pouco!
 
Quero protegê-la carregar em meu colo dizer do amor vulcânico em meu corpo todo, tolo o meu corpo como não ser tempestade diante da mulher ventania? Ela me parece tão segura diria se não soubesse da máscara sagrada sobre emoções inquietas. 

É tão distante e perto de mim fica quando menos espero quando espero não há garantias nunca me chama, insinua-se, aceita, negaceia, concorda, foge, dispara, aperta o gatilho e dispara outra vez.
 
De que valem as minhas preocupações, meus cuidados paternais, meu abraço cheio de segundas, terceiras e todas as boas e más intenções? Ela continuará a viver sem a minha fala, sem o meu olhar, sem a minha respiração na nuca.
 
Não faço falta e a que ela me faz eu aprendi a refazer. Sou necessário como um bem supérfluo e indispensável como chuva em um dia de praia. Vou dizer o quanto gosto dela, do que ela faz, comentar o que ela é, pensar que sei tudo sobre.
 
Ao tropeçar da noite mudarei de ideia. Não fará diferença. E isto já não me apavora mais. Quando o dia levantar-se tudo começará outra vez.

CRÂNIO DE NYLON

NINO BELLIENY


Não se tem a mínima certeza, porém, algo invisível desenha um rosto atento ao que está na tela. Um rosto de grandes olhos inteligentes e beleza ainda igual à primeira vez, visto num reveion em Atafona.

Ela chegou de manso, os longos cabelos presos e um sorriso tão doce que abelhas rodopiavam ao redor. Conversa de uma noite inteira e outras, viriam pela linha do telefone onde todos os passos, conquistas e pequenas derrotas seriam contadas.

Foi assim, atravessando distâncias e outras cidades, em cartas e milhares de horas telefônicas. Aquele rosto de menina iluminaria a favela de um coração por muitas trevas seguidas. Poesias foram fabricadas em linha de montagem e se aquilo não foi amor, chegou ao mais perto possível.

Hoje, embora saibam que nunca, mas, nunca mais mesmo, voltarão a sequer se cumprimentar, acompanhar a felicidade e o crescimento dela na direção das estrelas é uma espécie de paz abençoada por Deus.
Todas as mágoas foram lavadas pelo sabão do tempo deixando um brilho intenso e suave ao mesmo tempo. O tempo... não há detergente melhor. 

14 de out. de 2011

CULPA....

NINO BELLIENY
Culpar o outro é o caminho mais fácil. E o mais errado.

DESPERDÍCIO

NINO BELLIENY
Ódio é artigo luxuoso e caro.
Não se deve gastar com qualquer um.
Por motivo qualquer.
Amor sim, a gente deve esbanjar.

12 de out. de 2011

A RAINHA DAS PEDRAS

NINO BELLIENY


Sentada nas rochas como se estivesse também ali há milhares de anos onde o oceano vem esculpindo minuto a minuto tantas formas e acasos, a mulher de vestido branco é sereia perdida querendo voltar para casa. 

Os últimos pedacinhos de sol batem na água e as cores da tarde se misturam com a noite. Calmo está o mar, verde, azul, alaranjado. Cores outras se espalham pela lâmina d'água. 

Em cada reflexo a mulher de vestido branco e sorriso tão brilhante quando a primeira estrela, se multiplica.

Está só, embora tantos olhos a observem, pois, não há como não notar a beleza estática, quase estátua, em breve a saltar das rochas, caminhar até o carro e depois partir, sabe-se lá para onde... haverá um homem de sorte a esperar em alguma macia cama pronta para muitas horas de amor? 

Permanecerá solitária, mesmo em meio à tanta tagarelice do país das maravilhas? Em qual restaurante terá almoçado? Corre pela praia ao amanhecer? Respira litros de oxigênio puro ou cheio de recordações de alguém não mais presente?

A mulher de branco é o mistério das pedras. Domina a paisagem e a paisagem é quase tão bela quanto. Combinam entre si na metamorfose eterna das coisas que não morrem. 


No quadro a ser pintado, a mulher já é. Anoitece. O branco do vestido lembra um fantasma. Sem causar temor. Apenas um fantasma da beleza sem fim de uma mulher também.

O DRAGÃO INTERIOR

NINO BELLIENY

Ele surge sem nenhum tipo de aviso.Vem em forma de um defeito no celular, na TV, no computador e principalmente no carro. Vem no meio sorriso da esposa, no olhar vazio do patrão, na meia-resposta do sócio, no grunhir do colega de trabalho e em dezenas de outras possibilidades aborrecedoras. 

Pode aparecer voando já de manhã, antes mesmo do abrir das pestanas, cuspindo fogo e ruflando as asas sobre a cama, empestando o ar com um cheiro ancestral.

Chamar por São Jorge? Fugir pela janela? O Dragão Interior é insistente, quer torrar os neurônios da vítima e dilacerá-la em segundos. Sobrevive dos medos e incertezas, quanto mais duvida houver, lá estará, crescendo serpente alada no invisível de cada um.

Tem vários nomes e apelidos, disfarces e camuflagens, mas, é dentro do coração onde melhor se aninha. Instalado, se procria e espalha a prole pela língua, caminho mais fácil para ganhar outras almas e mentes. 

Voa em palavras amargas contra um amigo, em doses de saliva venenosa se banha, vicejando no elogio pérfido e zombeteiro, na inveja mal dissimulada, no descarinho com a família, na opressão ao subalterno, na fofoca giratória contra qualquer alvo humano. 

O Dragão Interior é tão antigo quanto nós, tão espelho e reflexo como as mansas águas de um lago escondendo sob si a vida selvagem de seus habitantes, peixe grande contra peixe pequeno. 

Vencê-lo não é impossível, embora momentâneo. Exige, contudo, boa armadura e espada bem temperada, enfrentando-o dia após dia, derrotando aos poucos, decepando as asas, eliminando o hálito, mesmo sabendo que ele pode voltar em alguns dias, semanas ou até mesmo minutos. 

De todo não é mau. Em incertos instantes, é ele quem poderá salvar-nos de outros dragões bem piores ainda, vindo de outras direções... vindo de outras cavernas ao redor.

LOST

11 de out. de 2011

DIAS DE MUITO SOL

PAKISSA

NINO BELLIENY

A pele clara resultante da mistura rara entre Brasil e Bolívia, montanhas e planícies, rios e vales, florestas e altiplanos dos dois países estão em Pakissa, a doce força da natureza latina no corpo de mulher e menina, ela é tudo e muito mais. 
O sorriso meio-a-meio, mistério e encanto sério de quem vai dominar o mundo. Pakissa, de algum dialeto direto das montanhas bolivianas, dileta filha das águas, condor nas alturas, riacho que desce cantando em busca de outro até formar um grande rio e chegar ao Pacífico. 
Seus olhos rasgados em elipse, soltam chispas e incendeiam sem fazer força. Tudo nela brilha e só não percebem os que estão cegos pelo egoísmo e a pressa de conquistar apenas corpos e satisfazer desejos. Pakissa é muito mais do que só uma linda mulher. O rosto bonito é fantástico por exatamente transmitir o que a alma exala e o espírito anuncia. 
Nem ela sabe direito que é assim, delicada nos defeitos, imperfeita nas qualidades, dona de tanta energia acumulada e uma certa tristeza indisfarçável, porém compreensível e possível de ser vencida. 
Nem ela sabe a força que tem, o encanto que possui, o bem que espalha ao redor. Não é preciso muito tempo para perceber quem ela é. Mas é necessário uma eternidade para usufruir tanta beleza que dela nasce. 
A vida passa, Pakissa não.

BRUMAS

NINO BELLIENY


Lembramos

De pessoas

Que sequer lembram da gente

Num encontro

Na esquina

De um dia comum

Lembramos com saudade e afeto tantos

Que o passar deste alguém

Tão firme e reto

P'ro futuro da outra esquina

Machuca o lado quente

Ainda do nosso coração.

ÉDEN

NINO BELLIENY
Só quem não tem juízo alcança paraíso.

LEIA A BULA ANTES

NINO BELLIENY

Quis ser a crônica não escrita. E conseguiu. Quis ser a palavra não dita, passar em branco, não precisar dizer adeus. Quis não se machucar de novo e não se importou em machucar quem nada tinha a ver com velhas mágoas. 

Repetiu a cena, só que agora não foi mais a vítima e sim a caçadora. Deveria haver uma lei protegendo as pessoas de entrarem em vidas mal resolvidas evitando assim acúmulo de dores numa novela sem fim. Uma placa que avisasse: "Cuidado, coração danificado sujeito à instabilidades ". 

Entrariam só aqueles que tivessem a coragem necessária para atravessar um terreno minado. Sem avisos, a paisagem tranquila funciona como um convite. Um coração canibal se alimentando mais uma vez. 

Quis ser o poema sem nome. Alcançou o que queria. Não se importou com a fragilidade exposta e a saudade que um dia seria insuportável. O importante era proteger-se, evitar o confronto, agasalhar-se na confortável concha da solidão. 

Sem sustos, sem o risco de novamente conhecer a cor cinzenta do abandono. Para isso, que se virasse o mundo. Se fosse egoísmo, se fosse medo, qualquer coisa incompreensível para quem nunca passou por igual, ainda assim valeria à pena. 

Quem já apanhou da vida entenderia. Quem viu sonhos se espatifarem e uma realidade inteira vazar pelo ralo saberia a razão de tanta defesa num castelo de areia. Azar de quem achou que pudesse quebrar o encanto e atravessar as barreiras. 

Diante de tantos canhões e baterias antiaéreas, convidado a retirar-se, ainda que pareça covardia, acabou sendo a melhor estratégia, enchendo o porta-malas de sonhos em pedaços, começando outra vez a não acreditar tão cegamente em impulsos e intuições. 

Aprendendo a perdoar. Única maneira inteligente de esquecer.

10 de out. de 2011

CARO AMIGO

NINO BELLIENY

Eu não sei por onde começar, mas é o meu dever de amigo cumprir esta tarefa a qual a nossa turma me designou comunicar-lhe. 
Sei que você vai ficar em dúvida, vai partir para briga, pois conhecemos o seu caráter e o seu comportamento impetuoso. Mas é preciso que o amigo acredite em mim e na boa intenção desta carta, afinal, a quanto tempo nos conhecemos?
O suficiente para você saber da minha dignidade e discrição. Portanto, antes que o caso cresça e tome proporções indevidas, resolvemos, após um a reunião fechada, onde somente aqueles que convivem conosco e gostam de você participaram, abrir o jogo, botar as cartas na mesa.
Não podemos deixar que um companheiro valoroso como você passe por uma situação tão constrangedora sem o mínimo conhecimento. No começo, nem eu acreditei. Quando a informação chegou ao resto do grupo, foi um espanto total, afinal, quem poderia desconfiar? Ou imaginar tamanha maledicência?
Só que o tempo foi passando, e o que pensávamos ser apenas uma simples fofoca, confirmou-se uma triste realidade. As gozações tomaram conta do que era incredulidade e você passou a ser alvo de chacotas, pondo em risco o equilíbrio da sua família.
Realmente não sei como lhe dizer, mas precisei tomar coragem e por alta consideração ao amigo que sempre foi prestativo e querido de todos nós, para escrever esta carta onde, repito, por acordo firmado entre seus fiéis camaradas, colegas de trabalho e lazer, fui o escolhido para avisar-lhe que sua querida e bondosa esposa, está lhe traindo.
Ps: Caso interesse, temos uma fita de vídeo.
Atenciosamente, seu amigo

ATRÁS DA JANELA

NINO BELLIENY

MEMÓRIAS MINHAS - I

NINO BELLIENY

Lembrei agora do meu avô. Quando passava uma mulher muito feliz ele comentava baixinho:" Batendo asinha e assoviando assim... tá comendo alpiste do bom...".

7 de out. de 2011

REENCONTRO

NINO BELLIENY
Talvez o tempo que ficaram sem se ver, tenha feito com que detalhes fossem esquecidos. Mas, estas pequenas coisas voltavam em flashs, denunciando que o principal permanecia.  Que bom que hoje podiam achar engraçado situações tristes do passado. Quando se ri de si mesmo, alcança-se o bom estágio dos que não se levam a sério . Tudo muito rápido, tudo muito fugaz, para que dramas?. Talvez quisessem estar ali, para um confronto com o passado, uma análise de sentimentos. O amor que sentiam ou sentem, pode estar adormecido, ou mesmo ter morrido de vez, porém, o encontro casual, o passar perto ou mesmo conversar com aquela pessoa que ocupou o coração e o fez sofrer é que poderá dizer o que ainda se sente: mágoa? Raiva? Saudade ? Ou apenas uma suave recordação que não incomoda mais, um simples reconhecimento de que sofreu-se, mas houve crescimento. As pessoas rejeitam, abandonam, humilham, desfazem, e acabam marcando fundo por isso. Os que ficam, se encasquetam querendo entender porque foram deixados, usados, abusados... e aí, pensam tanto nisso que até acham que é amor..

ALGUÉM TE ESPERA

NINO BELLIENY

POR DE TRÁS DAQUELES OLHOS

NINO BELLIENY

Quando adolescente, ninguém lhe roubou mais atenções e toda a paz. Bastava um gesto e lá estava, solícito cavaleiro da távola, disposto garoto apaixonado da cabeça aos dedos das mãos, trabalhadores incansáveis na substituição do que só ela poderia dar. E não dava, só recebia o vosso fruto e toma exploração, favores, recados para outros, elogios a outros, uma infinidade de negações. 

Em troca, só recebia aquele olhar. Ah, aquele olhar! Se você que está lendo agora o visse, ou pior ainda, fosse visto, jamais se esqueceria... pareciam chispas de solda, aquelas chamas azuladas, ora esverdeadas, queimando órbitas e o pensamentos. No entanto, o guri sobreviveu. O tempo lambeu os calendários das paredes, trocou caminhos, traçou músculos fortes no corpo e afiou a mente.

Carregou-o pelo mundo como folhas de paineira em dias de ventania. Se reencontraram, numa tarde em Lisboa, ela lendo Pessoa num café cheio de outros turistas também lendo Pessoa ou fingindo. Quando a viu, ficou parado, as lembranças fluindo lentas como o Tejo, e pensou que era Cabral fazendo o caminho inverso, redescobrindo uma rota antiga e silenciosa. 

Ficou assim, até ser notado por ela, figura graciosa, de pronto em pé, braços e sorrisos abertos, e logo já estavam abraçados em minutos que foram horas. Quis sentir-se soberano, senhor da situação, dissimular não estar nem um pouco emocionado. As palavras porém, foram em rumo de Trás-os-Montes, buscaram África, voltaram para Campos dos Goytacazes, deixando-o ali, presa inerte daquele olhar. 

De novo-o-mesmo-de-antigamente. Ela, mil vezes mais sagaz, mil vezes mais bonita e dona dos mesmos velhos artifícios, fingiu que não percebeu. Apenas tomou-o pelo braço e à moda lusitana, levou-o à Praça. Entraram no Hotel, bastaram-se de silêncios e fogo molhando os corpos. Uma noite sem pausas, com final marcado. 

Hoje, quando olha além da janela e não vê a Torre de Belém, tantos anos depois, ainda se pergunta se foi sonho ou imaginação, miragem emocional de quem está numa terra distante e acaba vendo, sem ver, pai, mãe amigos e até, principalmente, a única mulher que ele amou na vida.

WAR IS SHIT

NINO BELLIENY

VOCÊ PODE E DEVE

NINO BELLIENY

Ser feliz. Desde que seja agora e não depois, como muitos dizem: "Um dia serei feliz!"

Esta frase repetida por tantos que nem se tocam do perigo de dizer as coisas sem pensar, aceitando-as como um padrão, torna-os prisioneiros de uma ilusão futura e de-algo-que- talvez-venha-a-ser, acomoda quem deveria atentar para o Agora e não transferir para um amanhã que poderá ou não chegar. 

A felicidade passa por um exercício de conscientização das coisas boas que nos acontecem minuto após minuto. Por não prestarmos atenção exigindo de nós mesmos e dos outros sempre o fantástico e o extraordinário, reclamando do tédio e da rotina, culpando a si mesmo ou alguém pelo que acontece e desacontece, nos fechamos para o realmente fantástico da vida que é simplesmente viver. 

Cada ato diário revestido em milhares de pormenores que formam a rotina, não se repete, ainda que se pareça um com o outro. Nele há um raro sabor quase sempre oculto pela pressa e pela obrigação da manutenção e conquista de valores materiais. 

Isso acaba gerando confusões como se a felicidade viesse com a casa nova, com o carro mais potente e luxuoso, o celular mais moderno, a viagem de férias e outras pretensões dependentes do dinheiro. Com a felicidade não é assim. Não é um bem comprável, não vem como brinde e não depende de outra pessoa por mais maravilhosa que esta seja. 

As conquistas profissionais podem ir ao infinito, porém, não necessariamente trarão no contra-cheque o beneficio-felicidade. A ausência destas realizações também não garante ao indivíduo o fato de ser feliz só por não tê-las , colocando-o no paraíso das despreocupações por não precisar pagar impostos, blindar o carro, fugir da violência, não despertar inveja, passar despercebido sendo mais um na multidão. 

Ele terá os problemas inerentes à sua condição... sofrerá por não ter o que acha que precisa, por querer dar aos filhos o melhor e por outras faltas. A felicidade não pode depender dessas necessidades. Ela é espiritual. Ela é a ausência de dores e sofrimentos, muitos imaginários e opressivos. 

Ela não é o que os comerciais bem produzidos por publicitários inteligentes nos mostra. Você já é feliz e talvez não saiba, esperando por um milagre e não percebendo ser o próprio milagre. 

Ainda há tempo. Que tal começar agora ?

5 de out. de 2011

CALMA

NINO BELLIENY 
A sombra vive evitando o Sol.
E mesmo assim, todos os dias se reencontram.

CURTAS

NINO BELLIENY
  • ...Saudade, o sal da idade.
  • ...Longe dela fico todo atraplaahdo.
  • ...Beijo inédito e o 1º parágrafo de um livro possuem muito em comum.

1 de out. de 2011

A MORTE

NINO BELLIENY

A morte não tem compromisso. Chega quando, aonde e como quiser. Não tem obediência a dar a quem vem buscar nem a ninguém. Tem objetivos e não apontamentos. Simplesmente surge. 

Pode mandar sinais sobre a iminente chegada, mas, não os garante. Muda fácil de ideia, de rumo e de prosa. A morte é brincalhona, faz o que bem desentende.

Virá numa manhã de sábado, numa bonita tarde de domingo, em um meio-dia de uma segunda-feira. Quarta, quinta, sexta ,terça... não há ordem para a morte nem dias em seu calendário. 

Logo, não há calendário. Muito menos agenda. Ela estará no exato instante do minuto correto beijando a face do escolhido e levando sem nexo o fôlego da pessoa amada, da pessoa boa e da pessoa ruim. 

Não tem simpatia nem aversão, vem de mansinho ou violenta, vem... e vai. Será amaldiçoada e de nada adiantará. Será evitada nas conversas e de nada valerá. 

Indiferente, insolente, implacável, são alguns de seus prediletos adjetivos. Atinge ao que está no ponto mais alto do poder. Surfa na onda mais forte da juventude. 

Tanto faz... ela desfaz. Sempre voraz, faminta, sedenta e do mesmo modo tranquila em sua labuta. Não se corrompe, não aceita negociação, não há vantagem que a seduza. No acaso e no ocaso, no deserto das palavras e na multidão dos silêncios. 

Incompreensível. Inesquecível. Imperturbável. Insondável. Está em todas as religiões, nas portas dos templos, escrita nas pedras. Não permite a fuga. Todos os caminhos levam à ela. 

Tão antiga como o próprio tempo e portanto, tão moderna. Democrática, versátil, mágica, petulante, competente. Por muitos desejada, cultuá-la não garante regalias. Cada vez mais banalizada. Onipresente como uma celebridade. 

Cega,tudo enxerga; surda,tudo ouve. Dona de faro refinado encontra no vento a pista de seu próximo viajante e carrega-lhes em quantas quantidades quiser, às vezes, deixando algum para contar a história. Travessa, tosca, tétrica, tática, teatral e tímida.

Tudo nela se encerra e o impossível se completa. Não há não. Não há prorrogação nem disputa de pênaltis. Fim de jogo, fim de campeonato, fim. A morte não tem compromisso. A vida sim.

MENINO DE DEUS

Música de NINO BELLIENY 

Menino de Deus perdido nas ruas
O céu é o seu teto furado de estrelas
A poeira da vida encobre o seu corpo
menino de Deus caído na calçada
Invisível menino da alma cansada
Qual é o seu sonho?
Me conta menino
Criança sem rumo sem paz sem brinquedo
Geração sem futuro
Mergulhada no medo
Jogada no escuro
Quem o deixou aí?
Nós somos os culpados
Por não fazer nada
Esperando de Deus uma solução
E o grande pai nos responde silenciosamente
A melhor resposta está em seu coração.

CELULAR

ÁGUAS

NINO BELLIENY
Fixou o olhar. Lançou todo o charme que pensava ter. Mandou recado pelas colegas contando o quanto e há quanto gostava dela.
Antes da resposta se aproximou exalando confiança.
Ela, nada. Puxou assunto. Ela, nada. Pediu telefone. Nada. Insistiu. Nada. Sorriu. Nada. Quase se desesperou. Nada. Saiu antes que se afogasse.