18 de out. de 2011

A MULHER QUE ASSOBIA

NINO BELLIENY

O inesperado é o vento que sopra a vida. Em alguns dias só você percebe, sendo, provavelmente, ignorado pelos outros. Esqueça os outros. Eles estão ocupados com dinheiro, desejando estar em outro lugar, lamentando a perda de algo que não deram valor enquanto tinham ou à espera de grandes espetáculos. 

Os momentos mais sublimes raramente são compartilhados e mesmo que causados por alguém serão sempre uma impressão pessoal e única na frágil fita da memória. Pequenos milagres fugazes como uma fotografia não revelada.

Como na tarde em que eu vi a mulher que assobiava. Ela não se deu conta e feito passarinho, de repente estava a encher o espaço com encanto e leveza. 

Assim passarinho ela trinou alguns minutos, não se assustou nem bateu asas diante de mim. Com as aves devemos ter cuidado para não afugentá-las, aguardando que voltem outras vezes às nossas janelas cansadas. 

Com as mulheres também e ainda mais se for uma que assobia. Ela só dará tal presente se estiver feliz naquela hora, naquele tipo de felicidade que a pessoa nem percebe estar dentro. 

A mulher que assobia ou assovia – tanto faz a grafia – é uma raridade comparável às sereias e fadas, quase um mito. Sendo bela, mais bela será ao som do assobio de menina encantada. 

Ainda que retorne mais tarde, dor alguma resiste à mulher que assobia.

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