29 de out. de 2011

ONTEM À NOITE

NINO BELLIENY

O carro vai engolindo a escuridão. Os faróis batem na cortina de chuva enquanto os pneus chupam o asfalto. A velocidade se atenua e não é só por receio. Para prolongar a sensação de ser tragado pelo nada alivio o pé no acelerador. A música enche o carro, a chuva aumenta, eu deveria parar antes que as quatro patas de borracha pulem do chão em alguma curva. Prossigo na vertigem calma hipnotizado pelo limpador de parabrisas. Esqueço de onde estou vindo e aonde quero chegar. Ultrapasso os poucos caminhões da madrugada e a chuva é a melhor companheira. Enquanto não chego e não quero chegar, também a gasolina escorre em minhas veias e por dezenas de quilômetros eu sou feliz. 
Só os retrovisores insistem numa outra versão.

Nenhum comentário: