16 de out. de 2011

ATESTADO DE INCAPACIDADE

NINO BELLIENY

Ela está na estrada e nela estou pensando, pensando nela, não na estrada, que também é perigosa. Fico preocupado com alguém que nem se toca. Toca pra frente que a estrada é o futuro . 

Quero avisá-la dos contratempos, lembrar das curvas que conhece bem, do imprevisto na ponte, das retenções logo adiante. Ouço vozes que me dizem “não se antecipe, hoje vai dar tudo certo ela tem um anjo por perto”.
 
Devo confiar no além só meus olhos não fecham no aqui. Desejo saber como ela está e evito conexões, não é pelo preço da ligação é só não ser mais um monitorando- ser mais um eu não pretendo. E sou eu sei. Evito ciúmes ou pensamentos direcionados tenho sucesso na empreitada quando durmo pelo menos, mas, como tenho dormido pouco!
 
Quero protegê-la carregar em meu colo dizer do amor vulcânico em meu corpo todo, tolo o meu corpo como não ser tempestade diante da mulher ventania? Ela me parece tão segura diria se não soubesse da máscara sagrada sobre emoções inquietas. 

É tão distante e perto de mim fica quando menos espero quando espero não há garantias nunca me chama, insinua-se, aceita, negaceia, concorda, foge, dispara, aperta o gatilho e dispara outra vez.
 
De que valem as minhas preocupações, meus cuidados paternais, meu abraço cheio de segundas, terceiras e todas as boas e más intenções? Ela continuará a viver sem a minha fala, sem o meu olhar, sem a minha respiração na nuca.
 
Não faço falta e a que ela me faz eu aprendi a refazer. Sou necessário como um bem supérfluo e indispensável como chuva em um dia de praia. Vou dizer o quanto gosto dela, do que ela faz, comentar o que ela é, pensar que sei tudo sobre.
 
Ao tropeçar da noite mudarei de ideia. Não fará diferença. E isto já não me apavora mais. Quando o dia levantar-se tudo começará outra vez.

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