21 de set. de 2011

UMA NOITE TEM QUE SER A DA CAÇA

NINO BELLIENY


Uma à uma, as pessoas foram saindo da mesa na praça onde a voz solitária de um cantor acompanhado de seu violão vinha molhar os paralelepípedos com canções antigas e sereno. 

Garrafas de Skol Beats e copos com restos de limão e cuba libre espalhados sobre o tampo amarelo da mesa passaram a ser a companhia do homem e suas histórias voltando em velocidade. Pensou que estava em um velório, dos que no avançar da madrugada vão ficando só a mãe do defunto e um bêbado qualquer. 

Parecia também carro com pneu furado às margens de uma Br, tarde da noite, quando ninguém tem coragem de parar para ajudar ou mesmo vontade de. Não custou a entender o que estava acontecendo... inclusive merecia o vazio administrado em gotas de chuva que lhe batizaram a nova condição de bobo apaixonado. Um dia também fizera algo assim com ela, aquela que agora dizia que iria ali e já voltava... 

Dez minutos, vinte, trinta, quarenta... uma hora se passou e ela não retornou nem jamais retornaria. De começo, sentiu-se tolo, um pouco de raiva por acreditar que teria ido realmente buscar uma foto. Em outra cidade talvez. Em outro país. Depois, o velho bom-humor retomou-lhe as rédeas da reação e riu, um riso pacificado de quem sabia estar pagando com juros totais o que fizera um dia àquela a quem agora prestava contas, todas de uma vez. 

Riu o suficiente para não deixar mais amargo o gosto da cerveja esquentando no fundo da noite. Mas a falsa alegria não duraria muito tempo diante do gesto bem pensado, da estratégia de vingança se abatendo e ele sentindo-se inútil e perdido, mergulhando então no escuro da estrada que leva tudo e todos para longe... menos o sentimento de derrota e de um tempo sem volta.

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