21 de set. de 2011

GUARDADOS

NINO BELLIENY


Se lembra da porta entreaberta e dentro do quarto ainda arrumando-se, vestindo uma pequena calcinha listrada ( ou não seria?) aquele corpão esguio, bem feito em tudo e de tudo, agora há pouco se contorcendo sob uma língua voraz. Lembra do gosto único daquele suco, do abdômen esticado, de todos os lábios vibrando, de olhar para cima e vê-la de olhos semicerrados, belo rosto encarando o limiar do prazer. Dos gemidos abafados e da tensão desfeita.

Aquele corpo! Macio, cheiroso, sem nada sobrando, exatas proporções de mulher que se entende, se cuida, se ama, se doa naquele instante eterno em que um homem a explora e se perde dentro dos labirintos escorregadios. Cada cena permanece. O dia em que ela saiu para atender ao telefone e meio tonta esbarrou na parede, do primeiro beijo espontâneo , vinho branco, das músicas, do “você fala demais” e dos carinhos inesperados oriundos daquelas mãos quase sempre contidas. Mãos criadoras.
Mulher sem final, só começos. Dela, tem o sabor e a consistência grudados no céu-da-boca. Conhece, graças a isso, o significado do inesquecível. Viveu o inesquecível. E não sabe mais outra coisa tão bem.

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