21 de set. de 2011

MINHA QUERIDA

NINO BELLIENY


Não se trata de mais um admirador em sua vida. É algo mais profundo e por isso mesmo, retiro-me de qualquer possibilidade de insistência como um admirador costuma fazer. Achei legal a educação ao responder-me, a sutil maneira elegante. Sei que não foi mais um delírio meu. Presume-se realmente que esteja acostumada a ouvir galanteios e declarações.


Afinal, você não é mesmo uma do tipo comum. Não foi só a beleza estonteante nem o sucesso que me atraíram: foi o que senti dentro do seu olhar quando a vi pela primeira vez. Meu mundo girou. Principalmente no dia em que suas pupilas brilharam molhadas e tive a certeza que ali estava uma guerreira, monumental em sua vontade, mas, também monumental em carências.

Havia um leve desespero em seu semblante, um pedido de carinho e ao mesmo tempo em suas atitudes, a negação de tudo, sendo forte, ousada e vencedora. Enquanto lá no fundo, reinava uma menina frágil e perigosa. Ardente e sedutora garota . Gosto de você. Poderia continuar sendo seu amigo de longas conversas. O amante mais caloroso. No entanto, não estou livre nem agora também muito seguro de nada, simplesmente por saber que à cada vez que o meu olhar cruzar com o seu, correrei o risco das coisas mudarem. Deixo o meu silêncio. Nem mais afirmo a minha inteira disponibilidade para quando precisar de um amigo que não faz perguntas e irá aonde for preciso em nome do carinho e da sede causada pela saudade.

Tenho que ser duro comigo e com você. Apesar de muitas derrotas, quedas e recaídas, brigas e tantas idas e vindas, não mais vacilarei. Há quem conviva conosco e nada saiba da gente e felizmente existe o contrário. Resta, todavia, o respeito, mesmo para quem nos fez mais mal do que bem. Nossa história de amor foi envelhecida em tonéis de carvalho, amaciada pelo tempo, curtida pela experiência de cada aventura. Pelas serpentinas do destino atravessamos bons e péssimos momentos.

Tentei deixar-lhe várias vezes e em todas, lutei entre a luz e as trevas, sonhando com o seu sabor, aroma e intenso prazer sempre oferecido. Acabei várias vezes retornando mansamente aos seus dourados braços. Desta feita estou decidido. Querida aguardente, amada cachaça: é chegada a hora de despedir-me. A Lei Seca, as constantes ressacas e os micos cometidos, me fizeram ver que não dá mais para conviver com você. Sou fraco, reconheço, porém, agora chega! Adeus noitadas etílicas, adeus porres sensacionais. Divorcio-me de suas líquidas influências e nem seus parentes mais próximos como o whisky, a vodka, o vinho e a cerveja vão me convencer a voltar.
Adeus... antes que eu seja preso, o meu fígado exploda ou o meu coração arrebente... adeus!

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