21 de set. de 2011

DEPOIS QUE VOCÊ FOI EMBORA

NINO BELLIENY


Passei em sua casa, olhei as luzes apagadas e o vazio das janelas trancadas me fez sentir a inevitável realidade. Depois de sua partida, mesmo se as luzes estão acesas, sei quem não as acendeu e tudo é escuro, mesmo no claro. No silêncio que ficou, sua fala continuou ecoando pelos meus ouvidos a cada momento com uma nova interpretação.
Virei prisioneiro do que teria acontecido... o que teríamos feito se tivéssemos avançado o sinal dos nosso temores acreditando mais em nosso desejos. O dourado dos seus cabelos, o porte elegante, o corpo-que corpo!- eternizado em fotografias e um sorriso tão límpido capaz de hipnotizar estátuas. 


Depois que você se foi, passei de novo pela mesma rua farejando seu cheiro como um cão perdido do dono. 
Na memória uma história pela metade, cheia de perfumes, pele macia de uma mulher inigualável, bolo de aniversário, beijo rápido na escada e... mais nada. Neste cinema mental, amei você centenas de vezes, cada uma mais completa em sua impossibilidades reais. 


Agora que você foi embora, entendo todas as coisas ditas e não ditas; os olhares e o brilho dos dentes perfeitos; a roupa branca da faculdade; o cheiro de anestesia da clínica-escola; o desejo intenso- e realizado- de se formar , ganhar o mundo. 

Só me resta estender o olhar na direção do acaso. E perceber que você tinha ido embora já fazia tempo, só o corpo ainda estava por aqui. Espanto a tristeza, espero o sol nascer... e como ele demora depois que você foi embora.

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