21 de set. de 2011

AOS QUE ESTÃO CANSADOS

NINO BELLIENY
Não adianta. Não mudarei o mundo distribuindo conselhos, corrigindo erros alheios ou criticando atitudes. Em mesas de bares e festas, quantas vezes assisti à memoráveis reuniões vazias em torno dos defeitos ... de quem não estava presente. E quando um dos mestres da mesa se ausentava,passava este a ser o criticado da vez.

Inúmeras foram as ocasiões em que, eu também, cheio de razão ensinei a amigos e até a estranhos o quê e como fazer. É claro que não fizeram ,como eu , aliás, ignorei muitos conselhos, alguns de rara importância. Mas,não adianta. Não mudei nem mudarei o mundo. E sei que só há um modo de fazê-lo. Mudando a mim mesmo. Enquanto não viver tão simples verdade e toda verdade é simples, desperdiçarei grandes momentos.Talvez por isso me sinta cansado.

Cansado de ver grandes amigos, do tipo que anda, viaja, trabalha junto ...grandes amigos inseparáveis até o instante em que um está longe do outro e desanda a entregar os vacilos do distante. Assim como inacreditáveis esposas e namoradas a desabafarem dos amados em todo os sentidos do negativismo e em seguida passarem abraçadas e felizes com os malditos cujos.

De presenciar cenas de traição em todo os modos e nada poder fazer.Tantos livros excelentes, a Bíblia e suas sagradas lições, as missas e os cultos, as músicas , os hinos, os poemas, os belos filmes e a vida do vizinho continuando a ser mais interessante do que tudo isso. A inveja do colega de escritório.

A revolta por que o outro tem e ele não tem, a raiva por que uma vai à festa e a outra não. Tantos bons exemplos e preferimos seguir os piores. Quanta palavra de paz perdida em ouvidos cujas bocas preferem o uso da calúnia. Milhares de “dizem”,” ouvi dizer”, ”corre um boato”, ”estão dizendo”, me contaram”, começando informações distorcidas, inverdades magníficas a destruírem vidas e auto-estimas.

Gente com vergonha de defender alguém ,mas, sem nenhuma para atacar. Amigos se silenciando para não serem chamados de puxa-sacos. E todo aquele que usou ou usa da maldade para se dar bem, se dando muito mal. Nem por isso as pessoas aprendendo. Nem por isso compreendendo que a vida castiga duramente os dissimulados, pérfidos e falsos.

Porém,cada qual achando-se dono da razão, justificando os atos de vingança e as manobras do absurdo como ferramentas divinas. Mesmo assim, o mundo não mudou. Então, o que sinto é um baita cansaço envolvendo-me em pesado manto de desânimo. Não posso conscientemente ser mais um imbecil, continuar fariseu, permanecer prisioneiro de um cenário onde todos fingem ser bons samaritanos. Um monte de atiradores de primeira pedra ,segunda, terceira, uma pedreira inteira.


Da tela do computador meu olhar vai até o crucifixo sobre a estante. Analisando a expressão de agonia e êxtase do Crucificado consigo perceber, num átimo, mesmo sendo uma escultura, a essência de tudo o que as palavras jamais dirão. As forças retornam. Se Ele foi ao máximo da renúncia e da dor para que o mundo mudasse , por que eu ,que , jamais passei ou passarei pelo mínimo do mínimo do que Ele sofreu, devo desistir tão facilmente?



O que sinto então é vergonha. A saudável vergonha dos que muito ainda tem o que fazer. Exatamente começando por mim mesmo.

Nenhum comentário: