NINO BELLIENY
Beijo as palavras que ela me escreveu num antigo papel de carta cheio de asas em letras bonitas voando na folha sem pauta com frases longas e afetuosas onde ainda agora sinto tanta ternura que o apartamento parece deslizar no silêncio das coisas bem escritas com amor e caneta tinteiro de cor azul celestial tão fina deixando ver através a menina que a escreveu em um tempo de Beatles , Peter Frampton e Rádio Mundial depois das aulas no Ginásio no alto do morro ao lado da Igreja com seus sinos avisando a hora da missa e agora quem vem é a saudade implacável em acordes de Dire Straits badalando no vestíbulo dos ouvidos velhas canções de adolescentes sonhando com o mundo inteiro embaixo de um tênis All Star rabiscado de desenhos de guitarras e pranchas de surf no mar de uma praia sem fim e sem nome no coração dos sábados na discoteca Casarão entre dezenas de travoltas bebendo Bee Gees com Cuba Libre dominando a pequena pista cheia de miragens tendo como passaporte obrigatório estudar na ETFDC para ganhar muito dinheiro longe de casa podendo comprar um Passat como os amigos que conseguiram antes e voltavam orgulhosamente vitoriosos pela rua principal do pequeno lugar perdido entre morros e montanhas tão altas que lá no cume da mais inatingível morava a autora da carta e dos desenhos a nanquim embalando recordações numa demolida escada de pedras firmes para sempre na minha imaginação sem vírgulas.
Um comentário:
Show!!! Gostei!!!
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