3 de nov. de 2011

A VOLTA DE QUEM NUNCA SE FOI

NINO BELLIENY

Beijo as palavras que ela me escreveu num antigo papel de carta cheio de asas em letras bonitas voando na folha sem pauta com frases longas e afetuosas onde ainda agora sinto tanta ternura que o apartamento parece deslizar no silêncio das coisas bem escritas com amor e caneta tinteiro de cor azul celestial tão fina deixando ver através a menina que a escreveu em um tempo de Beatles , Peter Frampton e Rádio Mundial depois das aulas no Ginásio no alto do morro ao lado da Igreja com seus sinos avisando a hora da missa e agora quem vem é a saudade implacável em acordes de Dire Straits badalando no vestíbulo dos ouvidos velhas canções de adolescentes sonhando com o mundo inteiro embaixo de um tênis All Star rabiscado de desenhos de guitarras e pranchas de surf no mar de uma praia sem fim e sem nome no coração dos sábados na discoteca Casarão entre dezenas de travoltas bebendo Bee Gees com Cuba Libre dominando a pequena pista cheia de miragens tendo como passaporte obrigatório estudar na ETFDC para ganhar muito dinheiro longe de casa podendo comprar um Passat como os amigos que conseguiram antes e voltavam orgulhosamente vitoriosos pela rua principal do pequeno lugar perdido entre morros e montanhas tão altas que lá no cume da mais inatingível morava a autora da carta e dos desenhos a nanquim embalando recordações numa demolida escada de pedras firmes para sempre na minha imaginação sem vírgulas.

Um comentário:

Mauricio Pessanha disse...

Show!!! Gostei!!!