11 de nov. de 2011

TRIBO DO SOL SEM NUVENS

NINO BELLIENY
Crianças correm pelo gramado até o topo da colina, de lá descem em pedaços de papelão escorregando. Gritam e sorriem como todas as crianças traquinas, saudáveis meninos e meninas na confusão de grama, papelão e quedas indolores. Sou uma delas.

Faço pelo prazer e pra minha mãe ver como sou esperto. Chuto a bola, faço gol, olho em volta para saber se o meu pai viu. Quero a torcida deles, o incentivo, o sorriso de pais orgulhosos. 

Minha mãe está ocupada trabalhando. Meu pai, nem imagino. 
Ultimamente sinto-me invisível. Chego em casa do colégio, só o Jerry me reconhece, a cauda canina tem a forma constante de um sinal de interrogação, baba de felicidade, late rodopiando e pulando quando o chamo para correr pelos pastos. 

Minha irmã ouve música, a mais nova brinca e os cabelos louros lindos são raios de sol em todas as direções. O irmão mais velho partiu. Pratico Judô sozinho com um livro presenteado pelo professor. 

Olho para as nuvens e seus formatos. Leio gibis e Reinações de Narizinho.
Restam-me soldadinhos, índios de plástico e um jeep de brinquedo. Meu mundo é pequeno e cabe em um pedaço da calçada. Ali sou o imperador. E o vazio não entra.

Meu Universo sou eu mesmo e me acompanhará pelo resto de minha vida dentro do pequeno espaço de uma calçada.

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