10 de nov. de 2011

PARA QUEM SABE LER

NINO BELLIENY


Um pingo é mancha no papel. A crônica publicada, uma “carta” escrita por um “amigo”, que representando a sua turma alerta um companheiro sobre as traições de sua amada, baseada em tantas histórias alheias e próprias, (quem nunca passou por isso?), causou, longe de seu intento inicial de apenas divertir, uma silenciosa polêmica... silenciosa pelas reações, todas apenas baseadas no olhar e na maneira de perguntarem para quem seria, quando, como e onde... O terreno da ficção é sem limites. 

Suas fronteiras existem a partir do momento em que o leitor encara o que está à sua frente como real, provável, mentiroso, sonhador, ilusório ou engraçado apenas. A intenção de quem escreve pode ser alcançada por muitos ou por ninguém, por mais que se tenha tentado comunicar uma coisa, acaba se dizendo outra e cada leitor terá a sua interpretação única e pessoal. 

Diferente do colunismo social, onde mesmo com liberdade é possível informar com bom humor, mas sem fugir à veracidade e ao bom senso, a crônica permite a fantasia, ainda que esta seja totalmente retirada da realidade. 

Mas, sabemos se atingimos o gosto - ou o desgosto - das pessoas, quando rende comentários, o texto é recortado, repassado via e-mail, enfim, ganha vida própria e vai divertindo aos que tem senso de humor mesmo que se enquadrem; aborrecendo àqueles que são inseguros e ficam desconfiados; ou os que se reconhecem por inteiro e impotentes diante de uma situação onde só quem está dentro pode saber como é, se sentem frustrados e angustiados, sem a mínima chance de rirem de si mesmos.

Aliás sempre um bom começo de saída. Numa cultura onde para o homem trair é esportivamente normal e para a mulher completamente o contrário, qualquer manifestação pode levar ao ressentimento e a caminhos tortuosos. 

Quando todos compreenderem a hora certa de terminar uma história de amor bonita, mas que já deu o que tinha que dar e recomeçar uma outra é bem mais honesto do que fingir e suportar convenções sociais falidas, crônicas, piadas e historinhas de traição não farão mais nenhum sentido. Nem polêmicas...

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