4 de dez. de 2013

QUANDO CHORAM OS RIOS

Nino Bellieny
Durante o sempre, apertaram a calha, assoreando-o de todas as formas. Sobre ele, construíram quadras de tênis, campos de futebol, piscinas, muros, pilotis, casas, prédios e avenidas. Aterraram-no. Enterraram-no vivo. Em certas épocas, ele ressuscita caudaloso. E seus algozes, agora vítimas, tentam entender o porque, assustados, temerosos, humanamente sofridos diante do dono que voltou para pegar de volta o terreno. Clamam a Deus, choram as perdas, maldizem a quem lhes dá a vida. O preferido depósito de lixo, o inconveniente de todos os verões, o maldito desnecessário, o lugar aonde bem melhor seriam estacionamentos, ruas, prédios. Não demora e o desejo será real. Enquanto isso, pelos esgotos pedaços marrons do que somos vão cumprindo fétidas profecias.

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