18 de jul. de 2012

SIGA A SETA


Nino Bellieny
Me disseram que se eu trabalhasse muito
Teria todas as coisas necessárias e conforto.
Que se eu estudasse com afinco
Depois de cinco, oito anos ou mais
Teria um diploma na parede
Um Dr. antes do nome e todo o respeito.

Me falaram que se eu me dedicasse à honestidade
Votasse nos homens de bem
Seria ideal o meu pais e a minha cidade
Votei e os homens estão cheios de bens.

Me contaram que se eu obedecesse as leis
Estacionasse nos locais indicados
Não jogasse rua no lixo
Seria cidadão e não meio-homem, meio-bicho
Como tantos deitados nas calçadas das igrejas.

Que se eu servisse à Pátria
Aos pastores e sacerdotes
Evitasse a cobiça, gula, luxúria e os demais pecados
Não seguisse a bandeira de Iscariotes
Fosse cego e surdo como os postes
O Céu me seria reservado.

Ai eu seria feliz como num Domingão do Faustão
Meu carro popular na garagem
Minha inércia chamada de descanso
E minha fraqueza batizada de coragem.

Me politizaram com futebol, novelas, bebidas alcoólicas
Drogas lícitas, ilícitas e pregações apostólicas
Seja um bom homem, respeite os limites
Faça uma poupança, forme uma família
Eu e outros milhares seguimos a cartilha
Nascendo entre raspas, vivendo entre aspas, morrendo entre caspas
Etapas e beijos técnicos sem amor real.

Acreditando em sonhos vendidos em intervalos comerciais
Vivendo numa imensa fila de agência bancária.
Sepultando-me em vidas perfeitamente normais.

Até o dia da ressurreição final.

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